segunda-feira, outubro 17

A gloriosa impunidade

Durante muito tempo, antes de começarem a ser pendurados em postes, os sonetos foram vistos como uma espécie de crime perfeito da literatura.


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Castelo de areia e torre de marfim foram não mais do que metáforas até o surgimento dos poetas concretistas.

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Era um morto carrancudo, ensimesmado, desses que desde o início não fazem nada para agradar.

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É precavido. Notando que chegara a época de babar na gravata, foi à loja e comprou uma dúzia.

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Não se alegre tanto assim, tudo pode acontecer. Pensou se você morrer e morrer não for o fim?

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Em verdade vos digo que um dia morrereis – e mais não vos digo porque já sabeis.

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Tão discretos são os haicais que alguns só se declaram a nós depois de vinte anos de namoro.

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Houve um tempo – bem longínquo, é verdade – em que um cidadão de bem podia ser visto na companhia de um soneto.

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De um sonetista narigudo dizia-se que era capaz de farejar um cisne a duzentos metros.

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Até o último dos seus dias, o poeta parnasiano sustentou que seu fornecedor de poemas era Deus.

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Devo ter uns trezentos textos em que falo de gatos. É pouco, eu reconheço.

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Quem encontrar por aí um passarinho perdido, queira, por favor, encaminhá-lo ao ninho mais próximo ou ao primeiro haicai.
Raul Drewnick

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