– “Quem é você ?” perguntou por sua vez o fantasma.
Tingpo mentiu e respondeu – “Eu também sou um fantasma.”
O fantasma então quis saber para onde ele ia e Tingpo informou – “Estou a caminho para a cidade de Wanshih.”
– “Também vou para lá,” afirmou a aparição.
Assim puseram-se a caminhar juntos. Após uma milha, se tanto, o fantasma disse que era estupidez estarem andando ambos quando um podia carregar o outro, por turnos. – “ótima idéia,” achou Tingpo. O fantasma pôs Tingpo às costas e depois de ter andado uma milha disse – “Você é pesado demais para um fantasma. Tem certeza de que é um fantasma mesmo?”
Tingpo explicou que ainda era um fantasma novo e que, por conseguinte, ainda pesava um pouco. Tingpo, por sua vez, pôs-se a carregar o fantasma, mas esse era tão leve que tinha a impressão de não estar carregando nada. Assim foram caminhando, revezando-se, até que Tingpo perguntou ao companheiro qual era a coisa que metia mais medo aos fantasmas.
– “Os fantasmas têm um medo horrível da saliva humana”, afirmou o fantasma.
Assim foram andando, andando até que chegaram a um rio. Tingpo deixou que o fantasma fosse adiante e observou que êle não fazia barulho algum ao nadar, mas quando ele entrou n’água, o fantasma ouviu o estalar na água e pediu-lhe uma explicação. Tingpo explicou novamente – “Não se surpreenda, pois ainda sou muito novo e não estou ainda acostumado a atravessar a correnteza.”
No momento em que se aproximavam da cidade, Tingpo começou a carregar o fantasma nas costas apertando-o fortemente. O fantasma pôs-se a gritar e a chorar lutando para apear-se, porém Tingpo o apertou com mais força ainda. Ao chegar às ruas da cidade, soltou-o e o fantasma se transformou num bode.
Tingpo cuspiu no animal a fim de que não pudesse transformar-se outra vez, vendeu-o por mil e quinhentos dinheiros e foi para casa. Eis a razão do ditado de Shih Tsung: “Tingpo vendeu um fantasma por mil e quinhentos dinheiros.”
Soushenchi (sec. IV) – Lin Yutang, "Contos da China"
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