sábado, agosto 1

A cama e o livro

elegant-lust:John LaGattaNo frio, sob cobertas e com a iluminação de um abajur; no calor, sob ao refrigério de um ventilador ou ar-condicionado, a cama é apontado como o local preferido por nove entre dez leitores. A própria expressão “livro de cabeceira” demonstra a preferência do leitor por ler deitado. No entanto, foi um espaço que se custou a conquistar. Lenta conquista, mas hoje definitiva. Embora não haja estatística, há mais leitor adepto de levar o livro para a cama do que ler numa poltrona, ou cadeira, postura bem mais recomendável para a leitura.

Desde os gregos na sua kline, já era costume ler na cama. Os romanos mantinham cada leito com uma finalidade. Ovídio cita o lectulus, o leito de estudo, não muito diferente dos demais. Sem possibilidade de possuir camas – móvel dos mais rústicos por muito tempo na Europa – e sem instrução, os europeus pouco desfrutaram desse prazer por muitos séculos, só possível aos ricos e instruídos ou aos monges, na Idade Média, em seus catres. 


elpasha71:

Michal Lukasiewicz was born in 1974 in Pulawy, Poland, and since 1995 lives and work in Antwerp, BelgiumCom frequência, o prazer derivado da leitura depende em larga medida do conforto corporal do leitor
Alberto Manguel 



A cama, como espaço de leitura, também dependeu muito de uma descoberta: a leitura silenciosa. A prática só se estendeu a partir da Idade Média. Nos monastérios e bibliotecas das primeiras universidades, ainda eram ouvidos o rumor das leituras murmuradas, o ruminatio latino.

Cama e livros, entre os séculos XV e XVII, eram os únicos objetos que podiam ser possuídos individualmente. Mas só a partir do século XVIII as imagens representaram “o leitor que lê andando, que lê na cama” (Roger Chartier, em A aventura do livro - do leitor ao navegador). Na iconografia anterior a essa época, os registros eram de leitores sentados e imóveis em um gabinete ou espaço retirado e privado.

Ler na cama foi até mesmo condenado. São João Batista La Salle, no século XVIII, advertia que era indecente "divertir-se ociosamente na cama”, mesmo com um livro. Com o surgimento do livro impresso, a redução do formato e a vantagem do baixo preço, o leitor ganhou um prazer extra, que só então fora desfrutado pelos antigos romandos. E assim se pôde usufruir de um “pecado” a que muitos passaram a se entregar com imenso prazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário