Desde os gregos na sua kline, já era costume ler na cama. Os romanos mantinham cada leito com uma finalidade. Ovídio cita o lectulus, o leito de estudo, não muito diferente dos demais. Sem possibilidade de possuir camas – móvel dos mais rústicos por muito tempo na Europa – e sem instrução, os europeus pouco desfrutaram desse prazer por muitos séculos, só possível aos ricos e instruídos ou aos monges, na Idade Média, em seus catres.
Com frequência, o prazer derivado da leitura depende em larga medida do conforto corporal do leitor
Alberto Manguel
A cama, como espaço de leitura, também dependeu muito de uma descoberta: a leitura silenciosa. A prática só se estendeu a partir da Idade Média. Nos monastérios e bibliotecas das primeiras universidades, ainda eram ouvidos o rumor das leituras murmuradas, o ruminatio latino.
Cama e livros, entre os séculos XV e XVII, eram os únicos objetos que podiam ser possuídos individualmente. Mas só a partir do século XVIII as imagens representaram “o leitor que lê andando, que lê na cama” (Roger Chartier, em A aventura do livro - do leitor ao navegador). Na iconografia anterior a essa época, os registros eram de leitores sentados e imóveis em um gabinete ou espaço retirado e privado.
Ler na cama foi até mesmo condenado. São João Batista La Salle, no século XVIII, advertia que era indecente "divertir-se ociosamente na cama”, mesmo com um livro. Com o surgimento do livro impresso, a redução do formato e a vantagem do baixo preço, o leitor ganhou um prazer extra, que só então fora desfrutado pelos antigos romandos. E assim se pôde usufruir de um “pecado” a que muitos passaram a se entregar com imenso prazer.
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