Como seria lindo o Brasil — que país incrível! — se todos os ladrões não roubassem senão livros?
segunda-feira, julho 31
Professor da Escola de Medicina defende os livros como remédio para diversos males
No Laboratório de Leitura montado na Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo que Dante Gallian pôde perceber como a literatura impactava os leitores de forma afetiva e reflexiva, influenciando diretamente em suas vidas. “Como estávamos num ambiente acadêmico, começamos a abordar essa experiência como um objeto de estudo. Fomos constituindo uma linha de pesquisa que hoje congrega dezenas de pesquisadores e que apresenta uma grande produção científica com alta qualidade. Hoje, temos pesquisado os efeitos da aplicação do Laboratório não só no campo da saúde – na formação ética e na humanização dos futuros profissionais; como meio recuperação de pacientes psicóticos… –, mas também no âmbito das grandes corporações e setores específicos da sociedade, como grupos da terceira idade”, conta.
Dante é formado em História pela USP, onde fez seu mestrado e doutorado. Seu pós-doutorado veio pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, de Paris, e desde 1999 é professor e diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da EPM. Grande entusiasta da leitura – acredita que ler é um ato revolucionário -, teve sua vida impactada por clássicos como “A Odisseia”, de Homero; “A Divina Comédia”, de Dante; “Dom Quixote”, de Cervantes; “Hamlet”, de Shakespeare; “Os Irmãos Karamázov”, de Dostoiévski e “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.
Por ter aprimorado sua experiência de “ser e estar no mundo” graças aos livros que enveredou suas pesquisas para essa área. Os estudos resultaram em “A Literatura Como Remédio – Os Clássicos e a Saúde da Alma”, obra lançada há pouco pela Martin Claret, na qual fala sobre os resultados alcançados no Laboratório de Leitura. “Ali, a leitura compartilhada tem se apresentado como um elemento coadjuvante de grande poder em pacientes psicóticos ou como meio de combate à depressão em pacientes da terceira idade. Sendo um remédio que afeta primordialmente a alma, a psique, a literatura ajuda a reverter e mesmo a curar enfermidades de origem psíquica e emocional, que são as mais prevalentes no mundo atual”, diz na entrevista abaixo.
Dentre os problemas que um bom livro pode combater, Dante aponta principalmente para um que define como “predominante e crônico em nossos dias”: a ansiedade, algo diretamente relacionado à constante pressa a qual quase todos parecem estar submetidos. “Vivemos um tempo em que tendemos a privilegiar tudo o que é imediato e circunstancial e a desprezar tudo o que é permanente e essencial. Vemo-nos, cada vez mais, transformados em máquinas de produção e consumo e isso nos desumaniza e nos faz doentes. Estamos sempre extremamente ocupados, mergulhados numa dinâmica operacional de resolução de problemas e realização de tarefas, esquecendo de amar, de olhar, de contemplar o mundo, a vida, as pessoas que nos cercam”.
sábado, julho 29
A vida de um homem
Ele entrou para dentro de casa e não saiu nem viveu, esperando o que iria acontecer. Seu amigo disse, na hora em que ele morria:
— Agora já é tarde para que as coisas lhe aconteçam.
Oswaldo França Júnior, "As laranjas iguais"
Olhe as bibliotecas, ministro!
O novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, indicou que abrirá os cofres federais para a elite das escolas de samba. Nada contra a folia, mas há quem precise mais da ajuda do governo. No Rio, três bibliotecas modelo estão fechadas há sete meses por falta de dinheiro.
As chamadas bibliotecas parque foram inauguradas a partir de 2010, quando o Estado surfava nos royalties do petróleo e na euforia da Olimpíada. A promessa era levar livros, computadores e recursos multimídia a jovens de comunidades que eram dominadas pelo tráfico.
O sonho das bibliotecas faliu junto com o Estado do Rio. O governador que as inaugurou está na cadeia, condenado por corrupção. Os livros também estão presos. Em dezembro passado, as três bibliotecas foram trancadas com todo o acervo dentro.
O governo Pezão parou de pagar a organização social que geria o programa. A entidade rompeu o contrato, que previa o repasse anual de R$ 20 milhões, e demitiu cerca de 150 funcionários. Os estudantes ficaram ao relento. Só a biblioteca da Rocinha chegou a emprestar 15 mil livros e emitir 5.000 carteirinhas de sócio.
O secretário estadual de Cultura, André Lazaroni, diz que não há previsão de reabertura das unidades. Sua pasta também responde pelo Theatro Municipal, cujos funcionários estão sem receber. O primeiro-bailarino da casa virou motorista de Uber para pagar as contas.
O novo ministro é carioca e poderia ter estreado com um socorro às bibliotecas. Preferiu prometer mais dinheiro público aos capos do Carnaval. A festa é linda, mas já conta com verba da prefeitura, apoio dos bicheiros e um milionário contrato de TV.
Bernardo Mello Franco
As chamadas bibliotecas parque foram inauguradas a partir de 2010, quando o Estado surfava nos royalties do petróleo e na euforia da Olimpíada. A promessa era levar livros, computadores e recursos multimídia a jovens de comunidades que eram dominadas pelo tráfico.
Biblioteca Parque de Manguinhos (RJ) |
As primeiras duas unidades foram erguidas nas favelas da Rocinha e de Manguinhos. A terceira substituiu a antiga biblioteca pública do centro, a poucos metros da Central do Brasil. Todas contavam com wi-fi gratuito e computadores de última geração. Eram oásis de cultura em áreas marcadas por violência e abandono.
O sonho das bibliotecas faliu junto com o Estado do Rio. O governador que as inaugurou está na cadeia, condenado por corrupção. Os livros também estão presos. Em dezembro passado, as três bibliotecas foram trancadas com todo o acervo dentro.
O governo Pezão parou de pagar a organização social que geria o programa. A entidade rompeu o contrato, que previa o repasse anual de R$ 20 milhões, e demitiu cerca de 150 funcionários. Os estudantes ficaram ao relento. Só a biblioteca da Rocinha chegou a emprestar 15 mil livros e emitir 5.000 carteirinhas de sócio.
O secretário estadual de Cultura, André Lazaroni, diz que não há previsão de reabertura das unidades. Sua pasta também responde pelo Theatro Municipal, cujos funcionários estão sem receber. O primeiro-bailarino da casa virou motorista de Uber para pagar as contas.
O novo ministro é carioca e poderia ter estreado com um socorro às bibliotecas. Preferiu prometer mais dinheiro público aos capos do Carnaval. A festa é linda, mas já conta com verba da prefeitura, apoio dos bicheiros e um milionário contrato de TV.
Bernardo Mello Franco
sexta-feira, julho 28
Formando gente
Em Rolândia, a Sociedade Pró-Arte congregava os órfãos da cultura germânica e europeia, e promovia leituras públicas de versos de Rilke, Heine, Goethe e Schiller, e as discussões de livros que já tinham sido banidos e esquecidos na Alemanha e que sobreviviam, espremidos entre as caixas de bananas, na distância daquelas terras, para iluminar, com suas visões do sublime, os caminhos de perplexidade dos fugitivos, como pequenos templos portáteis, como fragmentos de luz e sinaleiros na longa noite, como as estrelas fixas que orientam as rotas dos navios que cruzam o oceano, como as pepitas de ouro e de prata que, em suas expedições ao coração da Amazônia peruana, Günther Holzmann imaginava que encontraria, em leitos de rios e nas entranhas da terra virgem, e que o salvariam da pobreza e da desorientação de caminhante solitário em terras estrangeiras.”Luís S. Krausz, "Bazar Paraná"
O homem nas mãos
Sim, realmente eu matei. Era a prova de amor. a suprema prova que exigira de mim. Eu dera-lhe um carro. Não gostara. Dera-lhe um apartamento. Apenas o aceitou. Dei-lhe um iate. Não se convenceu. Já me atirara a seus pés, muitas vezes, sem êxito algum. E antes de me ajoelhar e antes do automóvel, do apartamento e do iate, já lançara mão de todos os recursos ao alcance de um apaixonado em pleno delírio. Nada a comovera. Só acreditaria, só aceitaria um grande, um infinito. um amor sobre-humano. Assim julgava eu o meu amor. Ela não se convencia. porém. E eu sofria e escrevia poemas e chorava ao luar. Era a inatingível. Ofereci-lhe a minha vida. Recusou. Jurei que me mataria em seguida, se ela cedesse. Ela sorriu. "Pede-me o impossível", dizia eu. E ela sorria. Para os grandes amores não existe o impossível. Estava. toda inteira, nessa minha proposta, a prova definitiva de inexistência do amor em meu coração. E eu continuava me multiplicando em humildade e entregas desvairadas.
Um dia, olhei para a minha vida. Estava arruinado. Nada mais tinha de meu. Se ela quisesse um automóvel novo. um iate mais recente, um apartamento maior, já não os poderia dar. Meu desespero foi, então, sem nome. Perdera a última esperança. Mas conservava ainda a capacidade de argumentar, estranho poder de raciocinar friamente. Atirei-me de novo a seus pés. Se não era o dinheiro, se não eram tributos materiais de amor o que esperava, mas a prova apenas de um grande amor, a prova ali estava, na minha miséria. Que exigia agora ? Que podia esperar ?
— Enriqueça de novo.
E dentro em pouco — somente eu, ninguém mais, pode falar do que é capaz um grande amor — estava rico outra vez. Novo automóvel ? Dela. Viagem à volta do mundo ? Teve. Jóias? Colares? Todo dia. Festas? Jantares? Boates? Uma eu construí exclusivamente para ela e seus amigos. Três semanas depois, entediada, me dizia:
— Pode fechar a boate.
E eu fechei.
Abri e fechei em vão. Como em vão fora tudo. Era tédio e ceticismo. Certa noite, alucinado, eu a levava de automóvel por uma estrada maravilhosa.
— Você quer a lua ?
Ela sorriu.
— Não. Mate aquele homem.
A luz clara do luar, caminhava um pobre vulto à nossa frente, cem metros além. Pisei o acelerador. Teve a duração de um relâmpago.
— Vamos ver se morreu, disse ela.
Voltamos.
Sim, valeu a pena. Ela foi minha. Foi minha, afinal. E a vida se iluminou. Vivi alguns dias ou anos ou séculos — até hoje não sei — na mais total felicidade. A natureza cantava, os pássaros cantavam, o mar cantava, as ruas cantavam, as casas cantavam, cantavam os homens anônimos nas ruas. Até que ela começou a não acreditar outra vez. E eu voltei a dobrar-me a seus pés. E a suplicar, a pedir, como um doido. Desci a todos os extremos. Ate cantei boleros. Inutilmente. Foi quando, depois de novos boleros e jóias, ela me pediu outra vida. Apressei o carro — o luar era lindo — e tive-a novamente em meus braços. E daí por diante esse foi o preço. A sorte me ajudava de maneira espantosa no jogo. Do produto de uma noitada ofereci-lhe um colar de um milhão. Ela olhou o colar, abandonou-o displicente no sofá.
— Eu quero é sangue.
Levantei-me, com a chave do automóvel na mão.
- A tiro, disse ela.
Voei para casa, apanhei o revólver, ela ao meu lado.
— Eu quero ver.
Viu.
Tive-a de novo.
Passou tempo, depois disso.
Confesso, agora, confesso humildemente, que o amor também passou. Não sei como. Não sei quando. Foi de repente, foi aos poucos, não sei. Acabou. Hoje eu mato, mato quando ela me pede, quase por constrangimento, por hábito talvez. Porque ela pede. Talvez para não desapontá-la. Talvez para não me desapontar. Talvez querendo iludir-me. Talvez por displicência, por preguiça mental, preguiça de reagir . Mato sem vontade, mato sem paixão, quase uma questão de rotina. Pediu, eu mato. Adquiri o hábito de obedecer. Ficou em mim, entrou no meu sangue, esse automatismo. Uma jóia ? Eu compro. Um carro ? Eu dou. Um homem ? Eu mato. Eu não tenho é meio de recusar. Não me interessa mais, não quero mais, mas faço. Faço, obedeço. Negar não sei.
O pior é que, pelo jeito. ela anda querendo que eu me apresente à polícia...
Um dia, olhei para a minha vida. Estava arruinado. Nada mais tinha de meu. Se ela quisesse um automóvel novo. um iate mais recente, um apartamento maior, já não os poderia dar. Meu desespero foi, então, sem nome. Perdera a última esperança. Mas conservava ainda a capacidade de argumentar, estranho poder de raciocinar friamente. Atirei-me de novo a seus pés. Se não era o dinheiro, se não eram tributos materiais de amor o que esperava, mas a prova apenas de um grande amor, a prova ali estava, na minha miséria. Que exigia agora ? Que podia esperar ?
— Enriqueça de novo.
E dentro em pouco — somente eu, ninguém mais, pode falar do que é capaz um grande amor — estava rico outra vez. Novo automóvel ? Dela. Viagem à volta do mundo ? Teve. Jóias? Colares? Todo dia. Festas? Jantares? Boates? Uma eu construí exclusivamente para ela e seus amigos. Três semanas depois, entediada, me dizia:
— Pode fechar a boate.
E eu fechei.
Abri e fechei em vão. Como em vão fora tudo. Era tédio e ceticismo. Certa noite, alucinado, eu a levava de automóvel por uma estrada maravilhosa.
— Você quer a lua ?
Ela sorriu.
— Não. Mate aquele homem.
A luz clara do luar, caminhava um pobre vulto à nossa frente, cem metros além. Pisei o acelerador. Teve a duração de um relâmpago.
— Vamos ver se morreu, disse ela.
Voltamos.
Sim, valeu a pena. Ela foi minha. Foi minha, afinal. E a vida se iluminou. Vivi alguns dias ou anos ou séculos — até hoje não sei — na mais total felicidade. A natureza cantava, os pássaros cantavam, o mar cantava, as ruas cantavam, as casas cantavam, cantavam os homens anônimos nas ruas. Até que ela começou a não acreditar outra vez. E eu voltei a dobrar-me a seus pés. E a suplicar, a pedir, como um doido. Desci a todos os extremos. Ate cantei boleros. Inutilmente. Foi quando, depois de novos boleros e jóias, ela me pediu outra vida. Apressei o carro — o luar era lindo — e tive-a novamente em meus braços. E daí por diante esse foi o preço. A sorte me ajudava de maneira espantosa no jogo. Do produto de uma noitada ofereci-lhe um colar de um milhão. Ela olhou o colar, abandonou-o displicente no sofá.
— Eu quero é sangue.
Levantei-me, com a chave do automóvel na mão.
- A tiro, disse ela.
Voei para casa, apanhei o revólver, ela ao meu lado.
— Eu quero ver.
Viu.
Tive-a de novo.
Passou tempo, depois disso.
Confesso, agora, confesso humildemente, que o amor também passou. Não sei como. Não sei quando. Foi de repente, foi aos poucos, não sei. Acabou. Hoje eu mato, mato quando ela me pede, quase por constrangimento, por hábito talvez. Porque ela pede. Talvez para não desapontá-la. Talvez para não me desapontar. Talvez querendo iludir-me. Talvez por displicência, por preguiça mental, preguiça de reagir . Mato sem vontade, mato sem paixão, quase uma questão de rotina. Pediu, eu mato. Adquiri o hábito de obedecer. Ficou em mim, entrou no meu sangue, esse automatismo. Uma jóia ? Eu compro. Um carro ? Eu dou. Um homem ? Eu mato. Eu não tenho é meio de recusar. Não me interessa mais, não quero mais, mas faço. Faço, obedeço. Negar não sei.
O pior é que, pelo jeito. ela anda querendo que eu me apresente à polícia...
Orígenes Lessa
quinta-feira, julho 27
Morcegos são os 'guardiões' de biblioteca
A colônia de morcegos mais conhecida e mais falada em Portugal é a que vive na Biblioteca Joanina, da Universidade de Coimbra, e que desde o século 16 se encarrega de preservar suas centenas de volumes para que não sejam devorados pelos insetos conhecidos como "bibliófagos".
Cada morcego que habita na valiosa Biblioteca de Coimbra (Patrimônio da Humanidade), pode em apenas uma noite chegar a caçar 500 insetos que sobrevoam entre os exemplares.
Por isso, os responsáveis pela biblioteca, construída a mando do rei João V - daí o nome de Joanina -, asseguram que seus volumes foram conservados perfeitamente, apesar das numerosas fendas e circuitos de ventilação por onde passam os insetos.
Todas as noites, antes do fechamento da biblioteca, uma obra-prima barroca onde se conservam os exemplares próprios da cultura europeia entre os séculos 16 e 18, são preservadas centenas de volumes com cobertores de couro, com o objetivo de que as cópias não se deteriorem com as fezes dos morcegos.
A certeza da existência da colônia, onde convivem duas espécies de morcegos, foi confirmada recentemente pelo pesquisador português, Jorge Palmeirim que, apesar de não ter visto aos animais, conseguiu medir os sons emitidos por eles quando saem para voar à noite.
Especialmente, é relevante a caça da carcoma, cuja larva cava galerias sinuosas muito aparentes nos livros e pode fazer verdadeiros estragos tanto em papeis como nos couros dos livros.
Os conhecidos como "traças", companheiros das carcomas, são também objeto de caça para os morcegos, pois, ao invés de fazer galerias, acabam consumindo as folhas de papel, de preferência dos livros antigos.
No entanto, o aumento de exemplares e a passagem do tempo fizeram com que os morcegos não sejam suficiente como medida de proteção dos livros da Biblioteca Joanina, uma das principais atrações turísticas de Coimbra.
Segundo informações passadas pela universidade à Agência Efe, recentemente foi adquirida uma câmara de anoxia de seis metros cúbicos de capacidade para tratar o fundo bibliográfico.
O objetivo da câmara, que custou cerca de 70 mil euros para a universidade, é a desinfecção dos livros, evitando assim a ação dos insetos.
Nos três andares da Biblioteca Joanina, são preservados 60 mil volumes de diversos materiais, todos editados até o final do século 18, e, em conjunto com a Biblioteca Geral da universidade, são contabilizados 1 milhão de volumes.
Além de livros, a Biblioteca Joanina guarda jornais, revistas, manuscritos muito particulares e coleções especiais, entre os destaques estão uma notável coleção de mapas antigos e um conjunto extenso e incomum de documentos musicais dos séculos 16 e 18.
Nesta biblioteca, considerada uma das mais importantes do mundo, existem exemplares dos mais singulares, como a primeira edição dos "Os Lusíadas", uma bíblia hebréia editada na segunda metade do século XV da que apenas existem 20 em todo mundo.
Também chama a atenção a Bíblia Latina das 48 linhas, chamada assim, pois cada página possui 48 linhas.
Esta bíblia foi impressa no ano de 1462 por dois sócios de Gutenberg e é considerada uma das mais belas entre as quatro primeiras bíblias impressas.
A Biblioteca Joanina foi construída sobre uma prisão medieval e, mais tarde, as suas celas se usaram como prisão acadêmica para os maus alunos.
Cada morcego que habita na valiosa Biblioteca de Coimbra (Patrimônio da Humanidade), pode em apenas uma noite chegar a caçar 500 insetos que sobrevoam entre os exemplares.
Por isso, os responsáveis pela biblioteca, construída a mando do rei João V - daí o nome de Joanina -, asseguram que seus volumes foram conservados perfeitamente, apesar das numerosas fendas e circuitos de ventilação por onde passam os insetos.
Todas as noites, antes do fechamento da biblioteca, uma obra-prima barroca onde se conservam os exemplares próprios da cultura europeia entre os séculos 16 e 18, são preservadas centenas de volumes com cobertores de couro, com o objetivo de que as cópias não se deteriorem com as fezes dos morcegos.
A certeza da existência da colônia, onde convivem duas espécies de morcegos, foi confirmada recentemente pelo pesquisador português, Jorge Palmeirim que, apesar de não ter visto aos animais, conseguiu medir os sons emitidos por eles quando saem para voar à noite.
Especialmente, é relevante a caça da carcoma, cuja larva cava galerias sinuosas muito aparentes nos livros e pode fazer verdadeiros estragos tanto em papeis como nos couros dos livros.
Os conhecidos como "traças", companheiros das carcomas, são também objeto de caça para os morcegos, pois, ao invés de fazer galerias, acabam consumindo as folhas de papel, de preferência dos livros antigos.
No entanto, o aumento de exemplares e a passagem do tempo fizeram com que os morcegos não sejam suficiente como medida de proteção dos livros da Biblioteca Joanina, uma das principais atrações turísticas de Coimbra.
Segundo informações passadas pela universidade à Agência Efe, recentemente foi adquirida uma câmara de anoxia de seis metros cúbicos de capacidade para tratar o fundo bibliográfico.
O objetivo da câmara, que custou cerca de 70 mil euros para a universidade, é a desinfecção dos livros, evitando assim a ação dos insetos.
Nos três andares da Biblioteca Joanina, são preservados 60 mil volumes de diversos materiais, todos editados até o final do século 18, e, em conjunto com a Biblioteca Geral da universidade, são contabilizados 1 milhão de volumes.
Além de livros, a Biblioteca Joanina guarda jornais, revistas, manuscritos muito particulares e coleções especiais, entre os destaques estão uma notável coleção de mapas antigos e um conjunto extenso e incomum de documentos musicais dos séculos 16 e 18.
Nesta biblioteca, considerada uma das mais importantes do mundo, existem exemplares dos mais singulares, como a primeira edição dos "Os Lusíadas", uma bíblia hebréia editada na segunda metade do século XV da que apenas existem 20 em todo mundo.
Também chama a atenção a Bíblia Latina das 48 linhas, chamada assim, pois cada página possui 48 linhas.
Esta bíblia foi impressa no ano de 1462 por dois sócios de Gutenberg e é considerada uma das mais belas entre as quatro primeiras bíblias impressas.
A Biblioteca Joanina foi construída sobre uma prisão medieval e, mais tarde, as suas celas se usaram como prisão acadêmica para os maus alunos.
quarta-feira, julho 26
Ah, o leitor!
Pequenices
Joseph Raphae |
Passei da idade dos sonhos e ambições, cheguei ao tempo de ficar feliz com pequenas coisas.
Uma vaga no centro!
Jogo os pés para o lado da cama e eles pousam sobre as sandálias como se tivessem marcado encontro!
Há um último pedaço de queijo na geladeira, mas dá certinho para nossos dois sanduíches!
Experimento botar salsão no sanduíche, Dalva diz que ficou ótimo.
Vou fazer academia na praça, o sol se esconde me dando refresco.
No mercado, acho tomates escandalosamente vermelhos, pele lisinha, saborosos e até mesmo baratos!
Procuro certo parafusinho na caixa de ferramentas, e acho num instantinho entre tantos outros de tantos tamanhos, dou-lhe até um beijinho.
Acho uma vaga com sombra no centro!
O dermatologista diz que a coceirinha nas costas não é nada, nem berruga é, portanto não será tumor algum, só devo passar uma pomadinha quando coçar, e me dá a amostra grátis, um tubinho de pomada que me deixa feliz que nem criança com sorvete.
Aliás, consegui achar o sorvete de amarena de que os netinhos tanto gostam, eles comem me olhando agradecidos.
Entro no carro, ligo o rádio e está tocando uma música que amo desde menino. E acho – rapidinho! – uma vaga no centro!
Um netinho me vê enchendo carriola com terra, admirado diz ao outro netinho “o vôvô é forte”, e eu só não flutuo porque podem inventar algum imposto para flutuantes.
No banco, não consigo fazer uma operação no caixa automático, vou ao caixa-gente e sou atendido em minutos!
Acho rapidinho uma vaga com sombra no centro, pertinho de onde tenho de ir!
Encontro um colega de colégio e, depois de meio século, lembro seu nome e sobrenome, ele também fica feliz.
Dalva conseguiu um jeito de acessar filmes na tevê acoplada ao laptop. Que felicidade não depender mais de videolocadoras (até porque quase nem existem mais), nem de pirataria, que assim caminha para também acabar.
O netinho pede aviãozinho, faço, lanço, o aviãozinho faz duas lindas curvas antes de pousar na capota do carro. Digo que foi por querer, ali é o aeroporto de aviãozinho, e ele me olha admirado; só não alço voo também porque podem inventar imposto pra vô avião.
Este ano, depois de três anos de grandes floradas que deram em nada, a chácara deu mangas. Chupamos, comemos na salada, fizemos suco e sorvete. Dalva virou moleca trepando na mangueira para catar mangas, me joga uma a uma e eu boto no cesto com carinho, cada manga é uma glória!
Jogo a bolota de papel no cesto, de longe, cantando a jogada, “com tabela na parede”, e acerto, me sinto moleque por cinco minutos.
E acho rapidinho no centro, com sombra, pertinho de onde quero ir, uma vaga para idoso!
A moça fiscal vem me dizer que ali é só para idosos, mostro-lhe a credencial, ela pede desculpas, “não pensei que o senhor fosse idoso”, e eu só não levito porque você sabe.
Um netinho me vê enchendo carriola com terra, admirado diz ao outro netinho “o vôvô é forte”, e eu só não flutuo porque podem inventar algum imposto para flutuantes.
No banco, não consigo fazer uma operação no caixa automático, vou ao caixa-gente e sou atendido em minutos!
Acho rapidinho uma vaga com sombra no centro, pertinho de onde tenho de ir!
Encontro um colega de colégio e, depois de meio século, lembro seu nome e sobrenome, ele também fica feliz.
Dalva conseguiu um jeito de acessar filmes na tevê acoplada ao laptop. Que felicidade não depender mais de videolocadoras (até porque quase nem existem mais), nem de pirataria, que assim caminha para também acabar.
O netinho pede aviãozinho, faço, lanço, o aviãozinho faz duas lindas curvas antes de pousar na capota do carro. Digo que foi por querer, ali é o aeroporto de aviãozinho, e ele me olha admirado; só não alço voo também porque podem inventar imposto pra vô avião.
Este ano, depois de três anos de grandes floradas que deram em nada, a chácara deu mangas. Chupamos, comemos na salada, fizemos suco e sorvete. Dalva virou moleca trepando na mangueira para catar mangas, me joga uma a uma e eu boto no cesto com carinho, cada manga é uma glória!
Jogo a bolota de papel no cesto, de longe, cantando a jogada, “com tabela na parede”, e acerto, me sinto moleque por cinco minutos.
E acho rapidinho no centro, com sombra, pertinho de onde quero ir, uma vaga para idoso!
A moça fiscal vem me dizer que ali é só para idosos, mostro-lhe a credencial, ela pede desculpas, “não pensei que o senhor fosse idoso”, e eu só não levito porque você sabe.
Domingos Pellegrini
terça-feira, julho 25
Assim começa o livro...
Certa manhã, um jovem rapaz de aspecto infantil entrou numa livraria e pediu que o apresentassem ao proprietário. Seu desejo foi atendido. O livreiro, um velho de aparência muito distinta, olhou bem para a figura algo tímida à sua frente e a exortou a dizer a que vinha: “Quero ser livreiro”, disse o jovem principiante, “esse é meu anseio e não sei o que poderia me impedir de pôr em prática meu propósito. Sempre imaginei o comércio de livros como coisa encantadora e não entendo por que tenho continuamente de me consumir à margem dessa atividade tão adorável e bela. Veja, meu senhor, julgo-me, assim como ora me apresento aqui, extraordinariamente apto a vender os livros
Recado a uma mulher amada
Pierre-Auguste Renoir |
Mulher, eu fumava e hoje não fumo mais. Eu fumava muito. Tanto que nunca vi ninguém fumar. Eu gostava de fumar. Sentia com intensidade o prazer de fumar. Fumava dormindo. Sentava na cama e acendia o cigarro. E não tinha conhecimento que estava fumando. Fumava enquanto comia. Você já viu alguém fumando durante o almoço ou o jantar? Pois eu fumava. Comia e fumava. Na minha mesa havia sempre os pratos e um cinzeiro. Todo mundo tem uma mania. Eu tinha a mania do cigarro. Em minha casa ainda existe a cadeira de fumar. É uma cadeira onde eu ficava por longo tempo esquecido de tudo e fumando. Ficava recostado, quieto, olhando a fumaça e não pensando em nada além do prazer que estava sentindo. Às vezes, eu atrasava a hora de comprar um novo maço só para sentir ainda mais a agradável sensação do retorno do cigarro.
Eu fumava muito, mulher. Fumava como nunca vi ninguém fumar. Mas um dia deixei. Deixei de uma vez. Não foi à noite, nem pela manhã. Foi assim, no meio do dia, durante o trabalho. Deixei de uma vez. Estava com um maço no bolso, na hora em que disse “vou deixar de fumar”.
Deixei de fumar e aí? Aí, mulher, perdi por algum tempo a vontade de viver. Para que viver se não podia fumar? Para que acordar de manhã se não podia ter um cigarro na mão? Não almoçava, não jantava. Para quê? Antes eu fumava enquanto comia. Como conseguir então comer se não tinha junto o cigarro? E durante um certo período não fiz mais nada, nada. Apenas pensei na falta do cigarro. Como conviver com os outros se eles estavam fumando e eu não podia? Como assistir a um jogo e ver todas aquelas pessoas com cigarro e eu sem ter o meu? Eu não ia a lugar nenhum. E emagreci dez quilos. Sabe o que é perder dez quilos por falta de cigarro? Pois eu perdi.
Mas isto já passou. Hoje sinto apenas a lembrança um pouco doída do prazer que o cigarro me dava.
E agora, preste atenção: hoje completa vinte e três dias que nós não nos vemos. E eu gosto tanto de você. Eu lhe quero tanto. Sua falta me dá um vazio tão grande que se eu pudesse escolher entre passar por tudo o que passei quando deixei de fumar, e ficar sem a sua presença, eu deixaria uma outra vez de fumar. Deixaria novamente uma, duas, dez vezes, mas não ficaria sem você. Não ficaria nunca um minuto. Não ficaria de modo nenhum.
Oswaldo França Júnior (1936 - 1989)
segunda-feira, julho 24
O fim do fim do livro
Quantos psicólogos são necessários para se trocar uma lâmpada? Basta um! Mas a lâmpada precisará “desejar” ser trocada!
Pois é. O desejo move montanhas. Com a leitura também é assim.
A pessoa pode passar a vida sem leitura. Certamente uma vida menos ilustrada.
Cultura, cultivo... a leitura precisa ser cultivada. Precisamos cultivar o desejo de conhecimento, o desejo de leitura.
Seus autores tratados como estrelas, seus editores reverenciados. E seus locais de encontro com o leitor, as livrarias (físicas ou virtuais), locais frequentados e amados por toda gente. Verdadeiros pontos de encontro, praças, bibliotecas!
O livro impresso, como o garfo e a faca, disse Umberto Eco, são objetos definitivos.
Algumas poucas inovações surgiram através dos tempos.
Recentemente, surgiu o aparelho eletrônico para leitura. Trouxe uma série de alternativas e de facilidades para os leitores: capacidade de armazenamento, acesso rápido e remoto, entre outras. Bem-vindas novidades.
Mas os donos do negócio tinham pressa. Uma pressa que se mostrou um tanto desconectada. Seria mais rápido destruir o que já havia. Varrer o concorrente do mapa. Acabar com o livro impresso.
Esses donos do negócio são poderosos. Nada menos do que algumas das maiores corporações mundiais.
Logo toda uma campanha contra o livro impresso se iniciou. Segundo essa distopia, ele seguiria moribundo. Discutia-se a data final. O avanço do e-book seria exponencial. Nesse ano de 2017, já só restariam cinzas de livros e livrarias. Saudosas livrarias. Morreriam em 2015!
Claro que sempre restaria um nicho: gente saudosista e antiquada, a cultivar fósseis e colecionar relíquias. Ludistas.
As editoras também: essas faleceriam por volta de 2014. Por absoluta obsolescência.
Os editores? Dispensáveis. Cada autor se autopublicaria. Uma nova “Geração Mimeografo” high tech!
Para atingir rapidamente o objetivo dos novos poderosos, muita gente embarcou nessa canoa: tantas previsões, estatísticas, artigos jornalísticos visionários dos “Evangelizadores Tecnológicos”!
Muito espaço na mídia escrita, falada e principalmente eletrônica foi utilizado na blitz iconoclasta visando limpar rapidamente o espaço para a chegada triunfal do livro eletrônico. Muito dinheiro, público inclusive, foi investido e perdido.
Uma busca por tudo o que foi escrito sobre o tema pode render um interessante retrato desses tempos insensatos.
O fato é que as coisas foram se acomodando. A sociedade se manifestou. O livro eletrônico vai ocupando seu lugar. Modesto, embora ainda com perspectivas de crescimento.
Hoje as notícias são de retomada no crescimento de vendas, surgimento de novas livrarias pelo mundo afora.
Evidencias da manifestação da sociedade e do seu desejo pelo sagrado objeto multissensorial, o livro!
Dos formuladores e divulgadores das previsões atrevidas e catastróficas que causaram prejuízos e mal-estar ao mercado livreiro não adianta esperar reparação ou pedido de desculpas pelo estrago.
Um editor estrangeiro me confidenciou recentemente: “Concedi hoje uma entrevista para a Revista Wired que foi muito desagradável. Eles queriam saber sobre nossos planos para edições eletrônicas de livros de arte. Mas eu não tinha o que dizer pois abandonamos completamente esses projetos. Mas tive que dissimular e enrolar pois não poderia admiti-lo!”.
Lembro-me especificamente da capa de uma das nossas principais revistas semanais onde Paulo Coelho, nosso maior best-seller, uma verdadeira lenda do mercado livreiro mundial, segurava um tablete com a seguinte manchete: “O último livro que você vai comprar!”
Forte, não é? E muitos números, power points, gráficos divulgados sobre o fim do nosso nobre objeto de leitura.
Do meu ponto de vista, o ponto de vista dos livreiros, contamos perdas, mas agora já estamos à vontade para comemorar a certeza do fim do fim do livro!
Rui Campos
Pois é. O desejo move montanhas. Com a leitura também é assim.
A pessoa pode passar a vida sem leitura. Certamente uma vida menos ilustrada.
Mas não morrerá de inanição ou sede como se abstivesse de comida ou água.
Cultura, cultivo... a leitura precisa ser cultivada. Precisamos cultivar o desejo de conhecimento, o desejo de leitura.
Carlos C. Lainez |
A grande ferramenta que possibilita a leitura é o livro, seja em que suporte for.
Durante séculos, o impresso veio sendo cultuado, reverenciado, aprimorado, adornado com design espetacular, belas capas, papel leve e de tom confortável, orelhas inteligentes, rosto encantador. Um produto multissensorial.
Durante séculos, o impresso veio sendo cultuado, reverenciado, aprimorado, adornado com design espetacular, belas capas, papel leve e de tom confortável, orelhas inteligentes, rosto encantador. Um produto multissensorial.
Seus autores tratados como estrelas, seus editores reverenciados. E seus locais de encontro com o leitor, as livrarias (físicas ou virtuais), locais frequentados e amados por toda gente. Verdadeiros pontos de encontro, praças, bibliotecas!
Pois afinal, ali é possível manusear os livros, lê-los e até mesmo leva-los para casa por módicas quantias.
O livro impresso, como o garfo e a faca, disse Umberto Eco, são objetos definitivos.
Algumas poucas inovações surgiram através dos tempos.
Recentemente, surgiu o aparelho eletrônico para leitura. Trouxe uma série de alternativas e de facilidades para os leitores: capacidade de armazenamento, acesso rápido e remoto, entre outras. Bem-vindas novidades.
Mas os donos do negócio tinham pressa. Uma pressa que se mostrou um tanto desconectada. Seria mais rápido destruir o que já havia. Varrer o concorrente do mapa. Acabar com o livro impresso.
Esses donos do negócio são poderosos. Nada menos do que algumas das maiores corporações mundiais.
Logo toda uma campanha contra o livro impresso se iniciou. Segundo essa distopia, ele seguiria moribundo. Discutia-se a data final. O avanço do e-book seria exponencial. Nesse ano de 2017, já só restariam cinzas de livros e livrarias. Saudosas livrarias. Morreriam em 2015!
Claro que sempre restaria um nicho: gente saudosista e antiquada, a cultivar fósseis e colecionar relíquias. Ludistas.
As editoras também: essas faleceriam por volta de 2014. Por absoluta obsolescência.
Os editores? Dispensáveis. Cada autor se autopublicaria. Uma nova “Geração Mimeografo” high tech!
Para atingir rapidamente o objetivo dos novos poderosos, muita gente embarcou nessa canoa: tantas previsões, estatísticas, artigos jornalísticos visionários dos “Evangelizadores Tecnológicos”!
Muito espaço na mídia escrita, falada e principalmente eletrônica foi utilizado na blitz iconoclasta visando limpar rapidamente o espaço para a chegada triunfal do livro eletrônico. Muito dinheiro, público inclusive, foi investido e perdido.
Uma busca por tudo o que foi escrito sobre o tema pode render um interessante retrato desses tempos insensatos.
O fato é que as coisas foram se acomodando. A sociedade se manifestou. O livro eletrônico vai ocupando seu lugar. Modesto, embora ainda com perspectivas de crescimento.
O livro impresso, livrarias e editores sofreram.
Hoje as notícias são de retomada no crescimento de vendas, surgimento de novas livrarias pelo mundo afora.
Evidencias da manifestação da sociedade e do seu desejo pelo sagrado objeto multissensorial, o livro!
Dos formuladores e divulgadores das previsões atrevidas e catastróficas que causaram prejuízos e mal-estar ao mercado livreiro não adianta esperar reparação ou pedido de desculpas pelo estrago.
Um editor estrangeiro me confidenciou recentemente: “Concedi hoje uma entrevista para a Revista Wired que foi muito desagradável. Eles queriam saber sobre nossos planos para edições eletrônicas de livros de arte. Mas eu não tinha o que dizer pois abandonamos completamente esses projetos. Mas tive que dissimular e enrolar pois não poderia admiti-lo!”.
Lembro-me especificamente da capa de uma das nossas principais revistas semanais onde Paulo Coelho, nosso maior best-seller, uma verdadeira lenda do mercado livreiro mundial, segurava um tablete com a seguinte manchete: “O último livro que você vai comprar!”
Forte, não é? E muitos números, power points, gráficos divulgados sobre o fim do nosso nobre objeto de leitura.
Do meu ponto de vista, o ponto de vista dos livreiros, contamos perdas, mas agora já estamos à vontade para comemorar a certeza do fim do fim do livro!
Rui Campos
Da leitura
Suzanne Weyher Schlumberger (1878 - 1924) Não leiais para refutar ou contradizer, para aceitar ou aquiescer, para perorar ou discursar, mas para ponderar e considerar. Certos livros devem ser provados; outros engolidos; uns poucos mastigados e digeridos. Quer dizer: devemos ler certos livros apenas parceladamente; outros incuriosamente, e uns poucos da primeira à última página, com diligência e atenção. Alguns livros podem mesmo ser lidos por terceiros, que nos farão deles um apanhado, mas isso somente no caso de assuntos desimportantes, e de livros medíocres, pois livros resumidos são como água destilada: insípidos.
O ler faz um homem completo, o conferir destro, o escrever exato. Bem por isso, se alguém escreve pouco, deve ter boa memória; se confere pouco, muita sagacidade; se lê pouco, muita manha para afetar saber o que não sabe.Francis Bacon, "Ensaios Civis e Morais"
domingo, julho 23
Inelda Marcos dos sapatos
Faz tempo que ganhei o apelido de Imelda Marcos dos sapatos. Tenho pares suficientes para várias encarnações. Uma bota de cano curto em couro greasy, um sapato de fivela, um de uso industrial, uma botina com elásticos e por aí vai, sem falar dos tênis. O mais antigo de todos é um Oxford com mais de 20 anos de convivência.
Comprei todos em viagens que fiz pra fora do país porque aqui o valor dos sapatos, de boa cêpa, está cada vez mais impraticável. Outro dia vendo uma foto do Alckmin engraxando seus Vulcabrás notei que esta é a única coisa que temos em comum. Faço o mesmo com os meus numa relativa frequência.
Durante as últimas férias aproveitei para cuidar dos meus velhos e queridos pisantes. Limpei, hidratei o couro como pude, fiz assepsia nos solados. Mas o Oxford estava em péssimo estado. Pelo uso, craquelara na parte de cima. Levei a um sapateiro no meu bairro que elogiou a sua qualidade e prometeu deixá-lo zero quilômetro. De fato o fez, mas para tirar o defeito envernizou-o. A sensação que eu tinha ao andar com ele na rua era a de que tinha virado um palhaço, tamanho brilho vindo dos pés.
Não podia desistir daquele amigo de tantas trincheiras divididas. Trouxe-o para Ribeirão Preto, onde vim visitar a família. Vendo minha melancolia, uma sobrinha me indicou uma pequena sapataria num bairro periférico da cidade. Lá fui eu para uma última tentativa de salvar meu puro látex.
Eram 18h50. O sapateiro, um senhor negro como hulha, mirou o calçado com admiração. Disse-me que a loja fechava às 19 horas, mas que ia tentar desenvernivizá-lo. Entretanto, não prometia nada, devido à idade do paciente.
Sai para um café com o coração na mão. Lembrei-me de todos os lugares que aquele solado pisara comigo. Os países, os escritórios, as quebradas, os bares, as calçadas, os restaurantes. Das vezes em que sai de uma casa e o coloquei no meio dos meus pertences de qualquer jeito.
Em meia hora voltava ao estabelecimento. O branco dos dentes do sapateiro contrastou com seu rosto e um pé do companheiro que trazia nas mãos.
– Óia aí, fio, deu certo! – informou ele, com alegria.
O velho Oxford estava como novo, fosco e tinindo. E parecia também sorrir pra mim. Certas coisas materiais tem um pé na metafísica.
Comprei todos em viagens que fiz pra fora do país porque aqui o valor dos sapatos, de boa cêpa, está cada vez mais impraticável. Outro dia vendo uma foto do Alckmin engraxando seus Vulcabrás notei que esta é a única coisa que temos em comum. Faço o mesmo com os meus numa relativa frequência.
Durante as últimas férias aproveitei para cuidar dos meus velhos e queridos pisantes. Limpei, hidratei o couro como pude, fiz assepsia nos solados. Mas o Oxford estava em péssimo estado. Pelo uso, craquelara na parte de cima. Levei a um sapateiro no meu bairro que elogiou a sua qualidade e prometeu deixá-lo zero quilômetro. De fato o fez, mas para tirar o defeito envernizou-o. A sensação que eu tinha ao andar com ele na rua era a de que tinha virado um palhaço, tamanho brilho vindo dos pés.
Eram 18h50. O sapateiro, um senhor negro como hulha, mirou o calçado com admiração. Disse-me que a loja fechava às 19 horas, mas que ia tentar desenvernivizá-lo. Entretanto, não prometia nada, devido à idade do paciente.
Sai para um café com o coração na mão. Lembrei-me de todos os lugares que aquele solado pisara comigo. Os países, os escritórios, as quebradas, os bares, as calçadas, os restaurantes. Das vezes em que sai de uma casa e o coloquei no meio dos meus pertences de qualquer jeito.
Em meia hora voltava ao estabelecimento. O branco dos dentes do sapateiro contrastou com seu rosto e um pé do companheiro que trazia nas mãos.
– Óia aí, fio, deu certo! – informou ele, com alegria.
O velho Oxford estava como novo, fosco e tinindo. E parecia também sorrir pra mim. Certas coisas materiais tem um pé na metafísica.
Livro antigos
E para ele encompridar mais um pouco me pergunta o que tenho no bolso. Um livro, digo. Qual? Um usado, leio livros em final de exercício. Por quê? Digo-lhe outra vez. A mão dele vai ao bolso do meu casaco, mas não tira, sopesa.
Leio os usados porque as páginas muito folheadas e engorduradas dos dedos pesam mais nos olhos, porque cada cópia de livro pode pertencer a muitas vidas e os livros deviam ficar desvigiados nos lugares públicos e deslocar-se junto com os passantes que os levam consigo por um pouco e deveriam morrer como eles, consumidos por doenças, infectados, afogados ponte abaixo junto com os suicidas, enfiados num aquecedor no inverno, rasgados pelas crianças para fazer barquinhos, em suma deveriam morrer em qualquer lugar a não ser de tédio e de propriedade privada, condenados a uma prateleira pela vida toda.Erri de Luca, "Três cavalos"
Por que ler Jane Austen?
Louise Catherine Breslau (1856-1927) |
Nas comemorações dos 200 anos da morte da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), no último dia 18, teve de tudo: desde o lançamento de uma nota de dez libras com sua imagem na Inglaterra até um chá em sua homenagem na Confeitaria Colombo, no Rio, com direito a atores com roupas de época. Juntando-se a isso as inúmeras reedições, traduções, adaptações e continuações dos seis romances que Austen escreveu, fica provado que ela é a autora clássica mais popular da atualidade, com um fã-clube que rivaliza em tamanho e devoção apenas com o de seu conterrâneo William Shakespeare. Mas é justamente essa popularidade e a profusão de produtos com o nome de Jane Austen estampado que fazem com que alguns desconfiem da qualidade da obra da autora, muitas vezes considerada uma escritora menor de temas superficiais. Afinal de contas, por que ler Jane Austen?
Em primeiro lugar, porque Jane Austen está entre os melhores autores da história da literatura mundial, incluindo-se aí homens e mulheres. Seus livros têm uma prosa enxuta, de precisão cirúrgica, enredos complexos e harmônicos como os passos de dança da Era Georgiana, e personagens delineados com absoluta perfeição. Os vilões, os heróis e, sobretudo, as heroínas de Austen nunca são caricatos, mas de um realismo brilhante que nos envolve e nos faz amá-los, odiá-los, rir deles e torcer por eles. É isso que faz da obra de Austen tão atual: suas páginas mostram a natureza humana com a verdade incontornável de um espelho.
Em segundo lugar, porque Jane Austen é hilária. O humor é a principal característica de suas obras, o que pode ser facilmente comprovado por qualquer um que se familiarize com seus escritos de juventude, publicados por diversas editoras no Brasil. Nesses textos curtos, que Austen escreveu apenas para sua família e amigos mais próximos, ela ri da nobreza, da Igreja, da família e do casamento com uma falta de pudor espantosa para a jovem filha de um pastor anglicano que morava no interior. Esse riso implacável continua presente nos romances — embora sob um véu de ironia fina que o esconde de olhos menos atentos, o que permitiu a Austen ser publicada numa época em que o conservadorismo tomava conta de seu país, e continuar a ser admirada pelos tacanhos cegos de hoje.
E, finalmente, porque Jane Austen é importante. É verdade que os grandes acontecimentos de seu tempo mal são mencionados em seus livros, onde as guerras napoleônicas, por exemplo, são pouco mais que pano de fundo para bailes e piqueniques. Mas isso acontece porque Austen escolheu retratar a vida de quem travava suas batalhas nas salas de estar: as mulheres. Num tempo em que estas tinham pouquíssimas opções profissionais, em que o divórcio era quase inexistente e em que as esposas eram, por lei, completamente dependentes dos maridos, escolher o homem certo na hora de se casar era uma questão de sobrevivência. É dessa sobrevivência que Austen trata em seus romances, onde, apesar dos finais felizes, ela sempre nos lembra das consequências nefastas das escolhas erradas, vistas nos casais infelizes, nas mulheres arruinadas por um passo errado, na pobreza das viúvas. Austen jamais nos permite esquecer a fragilidade da condição das mulheres do seu tempo, o que mostra que, como todos os grandes escritores, ela trata da humanidade não só com verdade e coragem, mas também compaixão. E sempre com um sorriso nos lábios.
Julia Romeu
sexta-feira, julho 21
Presença
Apenas sei que regressei a casa quando te pego ao colo. Tens muito para dizer-me e, por isso, os nossos olhos não se separam. Podia ficar aqui para sempre, há um mundo completo no interior dos teus olhos. Avanço nele e só encontro pureza. Comparo essa paisagem com os lugares por onde andei e, por momentos, acredito que nunca mais quero sair daqui. Aspiro ao que vejo nos teus olhos, quero essa candura transparente para os meus gestos e para as minhas intenções. Aprendo tanto contigo.
Respiramos ao mesmo tempo. Agora, por fim, estamos juntos no mesmo instante, habitamo-lo. Passo as mãos pela tua cabeça, pescoço, costas, as minhas mãos são enormes no tamanho do teu corpo. Quando te habituas a esse ritmo e a esse calor, bocejas longamente. És tu, é a ternura, sorrio.
Nunca perguntas porque vou embora, sou eu que coloco a questão a mim próprio. Entre mistérios privados, secretos, há um lugar onde permanece essa interrogação sem resposta, exala uma espécie de força magnética, invisível e, no entanto, capaz de exercer força, mover objetos. Tento fixá-la como faço com os teus olhos, mas parece-me que lhe falta a tua clareza, que me falta a tua sinceridade.
Às vezes, sem saber o que quero, tenho a certeza de como posso alcançá-lo. Então, os movimentos são mais rápidos do que o pensamento, há uma vontade maior do que a minha a dirigir a minha vontade. Há uma voz distante que me chama, fico cego.
Agora, abraço-te. Em ti, protejo-me do mundo e de mim próprio. Esperaste-me atrás da porta, não deixaste que este tempo perturbasse o nosso apego. Levei-te comigo em todos os momentos, foste ao lado do meu nome, do meu silêncio, do pouco que realmente possuo.
Estás ao meu colo, respiras e, ao mesmo tempo, sou eu que estou ao teu colo, respiro. Há um entendimento que nunca perderemos, é maior do que as nossas vidas, é maior do que aquilo que somos capazes de ser. Eu sou um homem de 42 anos, tu és uma cadelinha de 11 anos, mas não é isso que importa.
José Luís Peixoto, in Notícias Magazine
Respiramos ao mesmo tempo. Agora, por fim, estamos juntos no mesmo instante, habitamo-lo. Passo as mãos pela tua cabeça, pescoço, costas, as minhas mãos são enormes no tamanho do teu corpo. Quando te habituas a esse ritmo e a esse calor, bocejas longamente. És tu, é a ternura, sorrio.
Sandy Vazan. |
Sinto o conforto do teu peso. Nele, há uma segurança profunda, absoluta.
Nunca perguntas porque vou embora, sou eu que coloco a questão a mim próprio. Entre mistérios privados, secretos, há um lugar onde permanece essa interrogação sem resposta, exala uma espécie de força magnética, invisível e, no entanto, capaz de exercer força, mover objetos. Tento fixá-la como faço com os teus olhos, mas parece-me que lhe falta a tua clareza, que me falta a tua sinceridade.
Às vezes, sem saber o que quero, tenho a certeza de como posso alcançá-lo. Então, os movimentos são mais rápidos do que o pensamento, há uma vontade maior do que a minha a dirigir a minha vontade. Há uma voz distante que me chama, fico cego.
Agora, abraço-te. Em ti, protejo-me do mundo e de mim próprio. Esperaste-me atrás da porta, não deixaste que este tempo perturbasse o nosso apego. Levei-te comigo em todos os momentos, foste ao lado do meu nome, do meu silêncio, do pouco que realmente possuo.
Estás ao meu colo, respiras e, ao mesmo tempo, sou eu que estou ao teu colo, respiro. Há um entendimento que nunca perderemos, é maior do que as nossas vidas, é maior do que aquilo que somos capazes de ser. Eu sou um homem de 42 anos, tu és uma cadelinha de 11 anos, mas não é isso que importa.
José Luís Peixoto, in Notícias Magazine
Razões científicas para ler mais do que lemos
A leitura é um dos melhores exercícios possíveis para manter o cérebro e as capacidades mentais em forma. Isso é verdade porque a atividade de leitura exige colocar em jogo um importante número de processos mentais, entre os quais se destacam a percepção, a memória e o raciocínio. Quando lemos, ativamos principalmente o hemisfério esquerdo do cérebro, que é o da linguagem e o mais dotado de capacidades analíticas na maioria das pessoas, mas são muitas outras áreas do cérebro de ambos os hemisférios que são ativadas e intervêm no processo. Decodificar as letras, as palavras e as frases e transformá-las em sons mentais requer a ativação de grandes áreas do córtex cerebral. Os córtices occipital e temporal são ativados para ver e reconhecer o valor semântico das palavras, ou seja, o seu significado. O córtex frontal motor é ativado quando evocamos mentalmente os sons das palavras que lemos. As memórias evocadas pela interpretação do que foi lido ativam poderosamente o hipocampo e o lobo temporal medial. As narrativas e os conteúdos sentimentais do texto, seja ele ficcional ou não, ativam a amígdala e outras áreas emocionais do cérebro. O raciocínio sobre o conteúdo e a semântica do que foi lido ativa o córtex pré-frontal e a memória de trabalho, que é a que usamos para resolver problemas, planejar o futuro e tomar decisões. Está provado que a ativação regular dessa parte do cérebro desenvolve não apenas a capacidade de raciocinar, como também, em certa medida, a inteligência das pessoas.
A leitura, em última análise, inunda de atividade o conjunto do cérebro e também reforça as habilidades sociais e a empatia, além de reduzir o nível de estresse do leitor. A esse respeito, devemos destacar o excelente trabalho de revisão do romancista e psicólogo Keith Oatley, da Universidade de Toronto, no Canadá, recentemente publicado na revista científica CellPress, "Fiction: Simulation of Social Worlds" (Ficção: Simulação de Mundos Sociais), que destaca que que a literatura de ficção é a simulação de nós mesmos em interação. Depois de uma rigorosa e elaborada revisão de dados e considerações sobre psicologia cognitiva, Oatley conclui que esse tipo de literatura, sendo uma exploração das mentes alheias, faz com que aquele que lê melhore sua empatia e sua compreensão dos outros, algo de que estamos muito necessitados. Essa conclusão ainda é avalizada por neuroimagens, ou seja, por dados científicos que exploram a atividade cerebral relacionada com esse tipo de emoções. A ficção que inclui personagens e situações complexas pode ter efeitos particularmente benéficos. Assim, e como exemplo, um trabalho recém-publicado mostra que a leitura de Harry Potter pode diminuir os preconceitos dos leitores.
Tudo isso sem falar na satisfação e no bem-estar proporcionado pelo conhecimento adquirido e como esse conhecimento se transforma em memória cristalizada, que é a que temos como resultado da experiência. O livro e qualquer leitura comparável são, portanto, uma academia acessível e barata para a mente, a que proporciona o melhor custo/benefício em todas as fases da vida, razão pela qual deveriam ser incluídos na educação desde a primeira infância e mantidos durante toda a vida. Cada pessoa deve escolher o tipo de leitura que mais a motiva e convém. As crianças devem ser estimuladas a ler com leituras adequadas às suas idades e os mais velhos devem providenciar toda a assistência que suas faculdades visuais necessitem para continuar lendo e mantendo seu cérebro em forma à medida que envelhecem. Uma razão a mais para que os idosos continuem a ler é a crença plausível de que não somos realmente velhos até que não comecemos a sentir que já não temos nada de novo para aprender.
Ignacio Morgado Bernal, diretor do Instituto de Neurociências da Universidade Autônoma de Barcelona
quinta-feira, julho 20
Ora, direis...
* A tristeza cai bem a ela, quando abaixo dos cabelos negros as lágrimas acendem duas estrelas.
* O menino vinha bravateando que uma noite ia encostar uma escada no muro, subir por ela e voltar com os bolsos abarrotados de estrelas. Há três noites morreu, a mãe disse que foi para o céu, e os meninos estão esperando que ele cumpra a promessa. Já começam a desconfiar que é difícil despregar as estrelas e que o amigo está com vergonha de voltar com os bolsos vazios.
* Na noite de lua cheia, o homem se atirou ao mar e teria morrido, se não o socorressem. Estenderam-no na praia e o fizeram expelir o ar dos pulmões. Em cada golfada saíam quatro ou cinco estrelas, que aos adultos passaram despercebidas, mas com as quais um garoto encheu um balde de plástico. As estrelas que não couberam no balde foram recolhidas pela maré alta, que as levou de volta às ondas, para que servissem de guia aos navios, de alimento aos peixes e de última visão aos nadadores desastrados ou aos suicidas.
* As mulheres deveriam tratar os poetas como se eles fossem meninos. É o que eles são. Meninos a quem convém perdoar tudo, pelo dom que têm de conversar com as estrelas. Meninos que, dotados desse privilégio de conhecer as estrelas, certamente sabem do que falam quando as comparam a algumas mulheres.
* Passava as noites na areia da praia, olhando para o céu. Às vezes, punha-se subitamente a correr. Não falava com ninguém, mas dizia-se que julgava ver estrelas caindo e ia recolhê-las. Nunca ninguém viu uma sequer na sua mão. Talvez tenha tido melhor sorte numa noite em que correu para dentro do mar. Nunca mais apareceu.
* Se uma pessoa me disser, uma só, que em certas manhãs Mario Quintana distribuía migalhas de estrelas aos pombos, eu acreditarei – ainda que mil pessoas me assegurem, e provem, que nunca houve estrelas nem pombos em Porto Alegre.
A história do menino que roubava livros
A paixão de um jovem pelos livros virou caso de polícia em Itápolis, interior de São Paulo. Depois de furtar e levar para casa 384 obras de todos os gêneros, Flávio Fernando de Oliveira, com 18 anos completados em março, foi flagrado na segunda-feira, por guardas municipais quando saía da biblioteca municipal com seis exemplares em sua mochila - apenas dois tinham sido registrados como empréstimo. Levado à delegacia da Polícia Civil, o leitor contumaz foi autuado por furto. Os guardas foram à sua casa e recuperaram livros furtados ou emprestados também de cinco bibliotecas escolares da cidade.
O caso lembra a história do filme “A Menina que Roubava Livros”, de 2013, dirigido por Brian Percival, em que a personagem central, Liesel Meminger, roubava livros para ler e partilhar com amigos na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Na cidade do interior, o rapaz lia sozinho, em casa, mas mantinha os livros bem conservados e organizados numa estante. “Ele gosta de ler desde pequeno e ficava horas trancados no quarto, folheando os livros”, conta a irmã Maria de Oliveira. “A gente não sabia que ele pegava os livros assim. Ele sempre dizia que emprestava ou ganhava.” Ela disse que o rapaz nunca revelou preferência por algum gênero. “Ele é bem eclético, lê de tudo. Eu o via sempre lendo.”
O rapaz, que mora com a família em uma casa simples, no Jardim 2000, periferia da cidade, falou com a reportagem por telefone. Ele disse que está envergonhado com a situação, pois não era intenção ficar com os livros. “Eu pegava para ler e ia devolver, mas acabei deixando em casa.” Ele disse que gosta de ler desde que era criança, concluiu o ensino médio e pretende cursar faculdade de psicologia. "Eu lia todos, sobre tudo." Perguntado sobre o motivo da não devolução dos livros, ele se esquivou. “Desculpe, mas não estou passando bem. Tem muita gente ligando aqui, fazendo piadas, falando coisas. Ficou uma situação desagradável.”
De acordo com a irmã, Flávio não achava que estava fazendo coisa errada, tanto que todos os livros ficaram guardados. “Estavam todos aqui, ele não vendeu, nem estragou nenhum. Eles (os guardas) chegaram de forma muito súbita e ele ficou assustado. Ele não está bem, foi para o quarto, vai levar algum tempo para se recuperar.” Segundo a irmã, Flávio ainda não conseguiu emprego e a leitura dos livros o ajudava a passar o tempo. “É melhor do que ficar fazendo coisa errada na rua.” Ela conta que sua mãe, Lúcia, já conversou com um advogado para a defesa do filho. Assustada com a repercussão, Lúcia também preferiu não se manifestar.
O delegado de polícia Daniel do Prado Gonçalves, que ouviu o rapaz, disse que ele foi flagrado por uma câmera instalada na biblioteca municipal. “Estavam sumindo muitos livros e eles instalaram o equipamento. Ele pegava alguns livros emprestados e levava outros escondidos. Fazia isso também nas escolas.” De acordo com o policial, Flávio não explicou por que agia dessa forma. “Minha impressão pessoal é de que ele pode ter algum problema psicológico, mas a família disse que ele é normal. Vou fazer o inquérito por furto simples e encaminhar ao juiz, a quem caberá decidir que andamento será dado.”
Com a repercussão do caso, pessoas da cidade se condoeram com a situação do rapaz e passaram a levar livros em sua casa. De acordo com Valcir Amaral, apresentador da 104 FM, a mãe ligou na rádio para pedir que as pessoas deixassem de fazer isso. “Ela disse que estava indo uma romaria de pessoas levar livros para o rapaz e ficou preocupada com essa situação, fez um apelo para que o povo não fizesse mais isso.”
Sem recursos para pagar advogado, a mãe de Flávio chegou a entrar em contato com a subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas foi informada de que a nomeação de defensor público é feita pelo juiz. Segundo Amaral, há um movimento na cidade para contratar um advogado para o leitor de livros. A prefeitura informou que as câmeras foram instaladas na biblioteca porque os livros estavam sumindo e a guarda tem a função de zelar pelo patrimônio do município. Os livros recuperados serão devolvidos às bibliotecas de onde foram retirados.
O Estado de São Paulo
O caso lembra a história do filme “A Menina que Roubava Livros”, de 2013, dirigido por Brian Percival, em que a personagem central, Liesel Meminger, roubava livros para ler e partilhar com amigos na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Na cidade do interior, o rapaz lia sozinho, em casa, mas mantinha os livros bem conservados e organizados numa estante. “Ele gosta de ler desde pequeno e ficava horas trancados no quarto, folheando os livros”, conta a irmã Maria de Oliveira. “A gente não sabia que ele pegava os livros assim. Ele sempre dizia que emprestava ou ganhava.” Ela disse que o rapaz nunca revelou preferência por algum gênero. “Ele é bem eclético, lê de tudo. Eu o via sempre lendo.”
O rapaz, que mora com a família em uma casa simples, no Jardim 2000, periferia da cidade, falou com a reportagem por telefone. Ele disse que está envergonhado com a situação, pois não era intenção ficar com os livros. “Eu pegava para ler e ia devolver, mas acabei deixando em casa.” Ele disse que gosta de ler desde que era criança, concluiu o ensino médio e pretende cursar faculdade de psicologia. "Eu lia todos, sobre tudo." Perguntado sobre o motivo da não devolução dos livros, ele se esquivou. “Desculpe, mas não estou passando bem. Tem muita gente ligando aqui, fazendo piadas, falando coisas. Ficou uma situação desagradável.”
Livros eram organizados em estantes. Foto: Guarda Municipal de Itápolis |
O delegado de polícia Daniel do Prado Gonçalves, que ouviu o rapaz, disse que ele foi flagrado por uma câmera instalada na biblioteca municipal. “Estavam sumindo muitos livros e eles instalaram o equipamento. Ele pegava alguns livros emprestados e levava outros escondidos. Fazia isso também nas escolas.” De acordo com o policial, Flávio não explicou por que agia dessa forma. “Minha impressão pessoal é de que ele pode ter algum problema psicológico, mas a família disse que ele é normal. Vou fazer o inquérito por furto simples e encaminhar ao juiz, a quem caberá decidir que andamento será dado.”
Com a repercussão do caso, pessoas da cidade se condoeram com a situação do rapaz e passaram a levar livros em sua casa. De acordo com Valcir Amaral, apresentador da 104 FM, a mãe ligou na rádio para pedir que as pessoas deixassem de fazer isso. “Ela disse que estava indo uma romaria de pessoas levar livros para o rapaz e ficou preocupada com essa situação, fez um apelo para que o povo não fizesse mais isso.”
Sem recursos para pagar advogado, a mãe de Flávio chegou a entrar em contato com a subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas foi informada de que a nomeação de defensor público é feita pelo juiz. Segundo Amaral, há um movimento na cidade para contratar um advogado para o leitor de livros. A prefeitura informou que as câmeras foram instaladas na biblioteca porque os livros estavam sumindo e a guarda tem a função de zelar pelo patrimônio do município. Os livros recuperados serão devolvidos às bibliotecas de onde foram retirados.
O Estado de São Paulo
quarta-feira, julho 19
Eu, leitor, confesso
Confesso que sou absolutamente desorganizada em minhas leituras. Não sei se sigo o método da loucura ou a loucura do método. Fui leitora até de bula de remédio, mas parei por medo dos efeitos colaterais.
Tenho tanto prazer ao ler os magistrais contos aterrorizantes de Edgar Allan Poe ou um delicioso romance policial noir de Raymond Chandler, quanto ao mergulhar nas sutilezas/trevas linguísticas/psicológicas de James Joyce ou Thomas Mann ou Umberto Eco ou Julio Cortázar ou... São universais, uns e outros, tanto quanto são universais Machado de Assis, Dyonelio Machado, Mário de Sá-Carneiro, Oliver Sacks, lista infindável.
E o prazer de descobrir algo novo? Uma referência feita por um amigo, um título entreouvido por aí, um livro aberto ao acaso, por curiosidade ou enfado?
Universal é qualquer coisa que estabeleça uma ligação, que acenda a faísca do interesse e provoque o desejo de saber mais. Cultura é uma matéria intimamente interligada em suas inúmeras ramificações, e nada melhor para um consumidor comum de cultura do que passear por seu vasto território, numa jornada puramente hedonista, como um turista que viaja despreocupado, sem itinerário planejado e sem bagagem, ou, ainda melhor, sem lenço e sem documento. Fuga da realidade? Sim, e daí? Mas, no melhor da festa, alguma coisa nas entrelinhas nos puxa de volta e lá vamos nós penetrar em outro universo.
O rato de biblioteca não teme as influências, é uma criatura voraz e ansiosa por novos sabores, sabe que nunca vai conseguir devorar a biblioteca inteira, mas nem por isso deixa de tentar. Mas este rato aqui ainda teme, desconfia e evita um corredor do labirinto, um outro tipo de universo. O virtual, o e-book, a tela plana, fria, o livro que não pode ser manuseado, não, não parece apetitoso, melhor deixar pra lá. Melhor encarar a modernidade apenas nos textos, melhor saborear a alta tecnologia da mente do artista.
É isso, aqui me despeço, pois não é da natureza do rato bibliófilo fazer longos discursos, e prometo tentar me organizar, parar de fumar, começar aquele curso de alemão etc. etc. etc. Amanhã.
Nora Augusta Corrêa
Tenho tanto prazer ao ler os magistrais contos aterrorizantes de Edgar Allan Poe ou um delicioso romance policial noir de Raymond Chandler, quanto ao mergulhar nas sutilezas/trevas linguísticas/psicológicas de James Joyce ou Thomas Mann ou Umberto Eco ou Julio Cortázar ou... São universais, uns e outros, tanto quanto são universais Machado de Assis, Dyonelio Machado, Mário de Sá-Carneiro, Oliver Sacks, lista infindável.
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Universal é qualquer coisa que estabeleça uma ligação, que acenda a faísca do interesse e provoque o desejo de saber mais. Cultura é uma matéria intimamente interligada em suas inúmeras ramificações, e nada melhor para um consumidor comum de cultura do que passear por seu vasto território, numa jornada puramente hedonista, como um turista que viaja despreocupado, sem itinerário planejado e sem bagagem, ou, ainda melhor, sem lenço e sem documento. Fuga da realidade? Sim, e daí? Mas, no melhor da festa, alguma coisa nas entrelinhas nos puxa de volta e lá vamos nós penetrar em outro universo.
O rato de biblioteca não teme as influências, é uma criatura voraz e ansiosa por novos sabores, sabe que nunca vai conseguir devorar a biblioteca inteira, mas nem por isso deixa de tentar. Mas este rato aqui ainda teme, desconfia e evita um corredor do labirinto, um outro tipo de universo. O virtual, o e-book, a tela plana, fria, o livro que não pode ser manuseado, não, não parece apetitoso, melhor deixar pra lá. Melhor encarar a modernidade apenas nos textos, melhor saborear a alta tecnologia da mente do artista.
É isso, aqui me despeço, pois não é da natureza do rato bibliófilo fazer longos discursos, e prometo tentar me organizar, parar de fumar, começar aquele curso de alemão etc. etc. etc. Amanhã.
Nora Augusta Corrêa
Formar o leitor
Morre Anne Golon, autora de "Angelica'
A escritora francesa Anne Golon, autora da famosa série "Angelica", traduzida em mais de 30 idiomas, morreu na última sexta-feira, aos 95 anos. A informação foi confirmada à AFP por sua filha, Nadine Goloubinoff, neste domingo. Segundo ela, Anne morreu em razão de uma peritonite.
A saga "Angelica", ambientada no século XVII e considerada um clássico da literatura popular contemporânea, foi um dos maiores sucessos editoriais franceses, com cerca de cem milhões de leitores em todo o mundo.
A romancista havia criado a personagem de "Angelica, a Marquesa dos Anjos" com o seu marido Serge, que morreu em 1972.
Entre 1957 e 1985, foram publicados 13 episódios da série, dos quais cinco foram adaptados aos cinemas, entre 1964 e 1968, todos dirigidos por Bernard Borderie com Michèle Mercier no papel de Angelica e Robert Hossein no de conde Joffrey de Peyrac.
Em 2013, um novo filme inspirado na saga, com Nora Arnezeder e Gerar Lanvin nos papéis principais, foi um fracasso comercial.
Simone Changeux, verdadeiro nome de Anne, nasceu em Toulon, no sudeste da França. Desde tenra idade, interessou-se pela literatura e na década de 1940 escreveu diversos romances.
O primeiro capítulo da série, em dois volumes de 500 páginas cada, foi publicado, curiosamente, pela primeira vez na Alemanha em 1956 e, em seguida, na França em 1957, rapidamente se tornando um dos mais vendidos em ambos os países.
domingo, julho 16
O livro tem futuro?
O que vai acontecer com o livro? Ele continuará existindo no papel ou apenas digitalmente? Neste caso, não acabará sendo ultrapassado por mídias mais modernas? Muitos acham que pelo fato de eu ser autor, editor e historiador tenho a obrigação de saber o que o futuro reserva ao livro.
Confesso aos interlocutores, um pouco contrariado, não ter instrumentos adequados para prever o futuro. Tento explicar que o historiador é, por profissão, um camarada modesto: ele tenta explicar o que já aconteceu, e por vezes até elabora uma narrativa coerente. Não tem a pretensão dos economistas que insistem em fazer previsões... e quase invariavelmente erram. Nem dos adivinhos de plantão que a cada final de ano cometem a proeza de profetizar sobre coisas óbvias e genéricas: garantem que ocorrerá a queda de alguma aeronave; que um artista muito famoso morrerá; que guerras continuarão assolando o Mundo Árabe e a fome não abandonará a África subsaariana (minha avó Sara é capaz de fazer “previsões” como essas...).
Já o historiador, no máximo consegue explicar os “comos” do passado, raramente os “porquês”. E esses são os bons profissionais. Pior são aqueles que não têm pudor em alterar os fatos acontecidos para que se encaixem melhor em suas teorias. Historiador que se preza também não se dispõe a produzir ficção fingindo que é História, ou, em um neologismo descarado, uma “reportagem do passado”... Nada disso. O historiador é modesto, mas é sério.
Ele sabe que o futuro é difícil de prever, muito difícil. E o motivo é simples: olhando para trás temos clareza sobre o caminho percorrido, ele nos parece lógico, óbvio até. Olhando para frente nosso cenário é de muitos trajetos, todos aparentemente viáveis. Qual deles será o mais adequado, qual nos levaria a um beco sem saída? Não sabemos.
Que historiador poderia ter previsto que em 1985 que teríamos um presidente eleito pelo Congresso e morto antes de tomar posse, pelo menos dois outros depostos antes de completar o mandato, um intelectual, um operário e uma mulher eleitos pelo voto direto? Quem sonharia em ver banqueiros, grandes empresários e políticos importantes atrás das grades, marqueteiros denunciando antigos chefes, governadores desonestos condenados, candidatos a candidatos tremendo de medo? Ninguém. Mais ainda: há meio século imaginava-se para o século XXI o tráfico urbano com veículos zanzando nas alturas, aviões supersônicos ligando os continentes, viagens rotineiras para a Lua, um mundo de robôs nos servindo em tudo e para tudo. Nada disso aconteceu. Por outro lado ninguém previu algo que provocou mudanças radicais na vida cotidiana dos habitantes do planeta: a Internet, com celulares, mídias sociais e todo o resto. É pouco?
Assim, o prudente é seguir um conselho que me dava Francisco Iglesias, talentoso e machadiano historiador mineiro, já falecido: “Não se arrisque a fazer previsões para o ano que vem, fale sobre o que vai acontecer daqui um ou dois séculos. Mesmo que erre, nenhum leitor estará aqui para cobrar seus enganos”. Seguirei o sábio ensinamento. Cobrem meus acertos ou erros em 2117. E aí vai minha primeira previsão:
O livro vai continuar existindo.
E a segunda: haverá leitores de livros.
Não bastassem essas duas, arrisco uma terceira: editoras continuarão sendo fundamentais. ?
Contudo...
A era de Gutemberg está acabando. A leitura de livros como hábito universal (estamos, é claro, falando de pessoas plenamente alfabetizadas e com acesso ao livro, comprando ou tomando emprestado de bibliotecas) está se esgotando. Países desenvolvidos tiveram sua fase de cultura oral, que foi, em grande parte, substituída pela cultura escrita. Países como o nosso nem chegaram a ter um período com prevalência da cultura livresca: saltamos diretamente do oral para o virtual... Com isso, a maior parte da população se satisfaz com truísmos repetidos à saciedade, com bobagens pomposas, com pseudoverdades profundas deslocadas de seu contexto circulando pelo ar que nos cerca (tem gente que acha até que eles colaboram na poluição das cidades).
Mas sempre haverá uma elite cultural, originária de diferentes extratos socioeconômicos da população, que lerá, aprenderá coisas com profundidade e será a criadora de softwares que serão utilizados pela manada. Esta continuará postando bobagens dentro de um universo de referências criado pela elite cultural, gente criativa. Os leitores de livros, enfim...
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