O caso lembra a história do filme “A Menina que Roubava Livros”, de 2013, dirigido por Brian Percival, em que a personagem central, Liesel Meminger, roubava livros para ler e partilhar com amigos na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Na cidade do interior, o rapaz lia sozinho, em casa, mas mantinha os livros bem conservados e organizados numa estante. “Ele gosta de ler desde pequeno e ficava horas trancados no quarto, folheando os livros”, conta a irmã Maria de Oliveira. “A gente não sabia que ele pegava os livros assim. Ele sempre dizia que emprestava ou ganhava.” Ela disse que o rapaz nunca revelou preferência por algum gênero. “Ele é bem eclético, lê de tudo. Eu o via sempre lendo.”
O rapaz, que mora com a família em uma casa simples, no Jardim 2000, periferia da cidade, falou com a reportagem por telefone. Ele disse que está envergonhado com a situação, pois não era intenção ficar com os livros. “Eu pegava para ler e ia devolver, mas acabei deixando em casa.” Ele disse que gosta de ler desde que era criança, concluiu o ensino médio e pretende cursar faculdade de psicologia. "Eu lia todos, sobre tudo." Perguntado sobre o motivo da não devolução dos livros, ele se esquivou. “Desculpe, mas não estou passando bem. Tem muita gente ligando aqui, fazendo piadas, falando coisas. Ficou uma situação desagradável.”
Livros eram organizados em estantes. Foto: Guarda Municipal de Itápolis |
O delegado de polícia Daniel do Prado Gonçalves, que ouviu o rapaz, disse que ele foi flagrado por uma câmera instalada na biblioteca municipal. “Estavam sumindo muitos livros e eles instalaram o equipamento. Ele pegava alguns livros emprestados e levava outros escondidos. Fazia isso também nas escolas.” De acordo com o policial, Flávio não explicou por que agia dessa forma. “Minha impressão pessoal é de que ele pode ter algum problema psicológico, mas a família disse que ele é normal. Vou fazer o inquérito por furto simples e encaminhar ao juiz, a quem caberá decidir que andamento será dado.”
Com a repercussão do caso, pessoas da cidade se condoeram com a situação do rapaz e passaram a levar livros em sua casa. De acordo com Valcir Amaral, apresentador da 104 FM, a mãe ligou na rádio para pedir que as pessoas deixassem de fazer isso. “Ela disse que estava indo uma romaria de pessoas levar livros para o rapaz e ficou preocupada com essa situação, fez um apelo para que o povo não fizesse mais isso.”
Sem recursos para pagar advogado, a mãe de Flávio chegou a entrar em contato com a subseção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas foi informada de que a nomeação de defensor público é feita pelo juiz. Segundo Amaral, há um movimento na cidade para contratar um advogado para o leitor de livros. A prefeitura informou que as câmeras foram instaladas na biblioteca porque os livros estavam sumindo e a guarda tem a função de zelar pelo patrimônio do município. Os livros recuperados serão devolvidos às bibliotecas de onde foram retirados.
O Estado de São Paulo
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