Pedro Vidal era a estrela literária do La Voz de la Industria. Escrevia uma crônica semanal na editoria de polícia, que era a única coisa que merecia ser lida em todo o jornal, e era autor de uma dezena de livros de suspense sobre gângsteres do bairro do Raval — o Distrito V — que viviam em concubinato com damas da alta sociedade, os quais lhe garantiram uma modesta popularidade. Metido invariavelmente em impecáveis ternos de seda e reluzentes mocassins italianos, Vidal tinha os traços e os gestos de um galã de sessão da tarde: cabelo louro sempre bem penteado, bigode fino e o sorriso fácil e generoso de quem se sentia confortável na própria pele e no mundo. Provinha de uma dinastia de emigrantes que tinha feito fortuna nas Américas com a produção de açúcar e que, de volta à Espanha, tinha cravado os dentes em uma suculenta fatia do plano de eletrificação da cidade. Seu pai, o patriarca do clã, era um dos acionistas majoritários do jornal, e dom Pedro usava a redação como pátio de recreação para matar o tédio de nunca, nem um único dia de sua vida, ter trabalhado por necessidade. Pouco importava que o diário perdesse tanto dinheiro quanto os automóveis que começavam a circular pelas ruas de Barcelona perdiam óleo: com abundância de títulos de nobreza, a dinastia dos Vidal dedicava-se agora a colecionar bancos e mansões do tamanho de pequenos principados no Ensanche.
Pedro Vidal foi a primeira pessoa a quem mostrei os rascunhos que escrevia quando era apenas um menino e trabalhava servindo café e cigarros na redação. Sempre teve tempo para mim, para ler meus escritos e dar bons conselhos. Com o tempo, chamou-me para ser seu assistente e permitia que datilografasse seus textos. Certo dia me disse que, se eu quisesse mesmo apostar meu destino na roleta-russa da literatura, estava disposto a me ajudar e a guiar meus primeiros passos. Fiel à palavra dada, tinha me jogado nas garras de dom Basilio, o cão de guarda do jornal.
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