Júlia Lopes de Almeida, que participou da criação da ABL mas não pode assumir uma cadeira por ser mulher |
Ruffato ressalta que não se trata de valorizar Júlia pelo fato de ela ser mulher, mas sim pela sua qualidade literária. O escritor conta que descobriu a obra da autora na década de 1980, quando estudava em Juiz de Fora (MG). Encantado pelo romance “A falência”, que trata do surgimento da burguesia comercial brasileira no início da República, Ruffato iniciou uma busca por outros livros de Júlia e, na década de 1990, colaborou em reedições feitas pela Editora Mulheres, que fechou após a morte de sua fundadora, Zahidé Muzart.
— Júlia é uma autora magnífica. Não é nenhum favor resgatá-la. Ela é um caso absurdo de escritora que não está no cânone literário por puro machismo. Ela é muito superior à grande maioria dos autores de sua época. Os únicos que se equipararam naquele momento são Aluísio Azevedo e Lima Barreto — afirma Ruffato.
Anna Faedrich foi pesquisadora residente na Biblioteca Nacional, onde coordenou uma pesquisa sobre Júlia, Albertina e Narcisa. Para Anna, ao serem excluídas das obras de história da literatura brasileira, essas mulheres foram esquecidas. Ela lembra que o cânone do Romantismo brasileiro só tem homens, como Gonçalves Dias e José de Alencar, apesar da importância de autoras como Narcisa Amália, uma poeta que dialogou com as três gerações do movimento.
— Os professores não sabem da existência dessas escritoras. Mesmo na universidade, reproduz-se o cânone do Romantismo, onde se acredita que as mulheres não eram educadas, eram todas analfabetas. Mas a culpa não é do professor. Um grande passo é reescrever essa história da literatura e inserir essas autoras em diálogo com outros escritores — explica Anna. — Essas mulheres escreviam, publicavam, faziam conferências e dialogavam com os homens, e mesmo assim não temos notícias delas. Toda história da literatura é escrita a partir da anterior, reproduzindo um discurso excludente.
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