quarta-feira, julho 19

Eu, leitor, confesso

Confesso que sou absolutamente desorganizada em minhas leituras. Não sei se sigo o método da loucura ou a loucura do método. Fui leitora até de bula de remédio, mas parei por medo dos efeitos colaterais.

Tenho tanto prazer ao ler os magistrais contos aterrorizantes de Edgar Allan Poe ou um delicioso romance policial noir de Raymond Chandler, quanto ao mergulhar nas sutilezas/trevas linguísticas/psicológicas de James Joyce ou Thomas Mann ou Umberto Eco ou Julio Cortázar ou... São universais, uns e outros, tanto quanto são universais Machado de Assis, Dyonelio Machado, Mário de Sá-Carneiro, Oliver Sacks, lista infindável.

Entre Lápis e Pincéis: Gobugi
Gubogi
E o prazer de descobrir algo novo? Uma referência feita por um amigo, um título entreouvido por aí, um livro aberto ao acaso, por curiosidade ou enfado?

Universal é qualquer coisa que estabeleça uma ligação, que acenda a faísca do interesse e provoque o desejo de saber mais. Cultura é uma matéria intimamente interligada em suas inúmeras ramificações, e nada melhor para um consumidor comum de cultura do que passear por seu vasto território, numa jornada puramente hedonista, como um turista que viaja despreocupado, sem itinerário planejado e sem bagagem, ou, ainda melhor, sem lenço e sem documento. Fuga da realidade? Sim, e daí? Mas, no melhor da festa, alguma coisa nas entrelinhas nos puxa de volta e lá vamos nós penetrar em outro universo.

O rato de biblioteca não teme as influências, é uma criatura voraz e ansiosa por novos sabores, sabe que nunca vai conseguir devorar a biblioteca inteira, mas nem por isso deixa de tentar. Mas este rato aqui ainda teme, desconfia e evita um corredor do labirinto, um outro tipo de universo. O virtual, o e-book, a tela plana, fria, o livro que não pode ser manuseado, não, não parece apetitoso, melhor deixar pra lá. Melhor encarar a modernidade apenas nos textos, melhor saborear a alta tecnologia da mente do artista.

É isso, aqui me despeço, pois não é da natureza do rato bibliófilo fazer longos discursos, e prometo tentar me organizar, parar de fumar, começar aquele curso de alemão etc. etc. etc. Amanhã.

Nora Augusta Corrêa 

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