Joseph Raphae |
Passei da idade dos sonhos e ambições, cheguei ao tempo de ficar feliz com pequenas coisas.
Uma vaga no centro!
Jogo os pés para o lado da cama e eles pousam sobre as sandálias como se tivessem marcado encontro!
Há um último pedaço de queijo na geladeira, mas dá certinho para nossos dois sanduíches!
Experimento botar salsão no sanduíche, Dalva diz que ficou ótimo.
Vou fazer academia na praça, o sol se esconde me dando refresco.
No mercado, acho tomates escandalosamente vermelhos, pele lisinha, saborosos e até mesmo baratos!
Procuro certo parafusinho na caixa de ferramentas, e acho num instantinho entre tantos outros de tantos tamanhos, dou-lhe até um beijinho.
Acho uma vaga com sombra no centro!
O dermatologista diz que a coceirinha nas costas não é nada, nem berruga é, portanto não será tumor algum, só devo passar uma pomadinha quando coçar, e me dá a amostra grátis, um tubinho de pomada que me deixa feliz que nem criança com sorvete.
Aliás, consegui achar o sorvete de amarena de que os netinhos tanto gostam, eles comem me olhando agradecidos.
Entro no carro, ligo o rádio e está tocando uma música que amo desde menino. E acho – rapidinho! – uma vaga no centro!
Um netinho me vê enchendo carriola com terra, admirado diz ao outro netinho “o vôvô é forte”, e eu só não flutuo porque podem inventar algum imposto para flutuantes.
No banco, não consigo fazer uma operação no caixa automático, vou ao caixa-gente e sou atendido em minutos!
Acho rapidinho uma vaga com sombra no centro, pertinho de onde tenho de ir!
Encontro um colega de colégio e, depois de meio século, lembro seu nome e sobrenome, ele também fica feliz.
Dalva conseguiu um jeito de acessar filmes na tevê acoplada ao laptop. Que felicidade não depender mais de videolocadoras (até porque quase nem existem mais), nem de pirataria, que assim caminha para também acabar.
O netinho pede aviãozinho, faço, lanço, o aviãozinho faz duas lindas curvas antes de pousar na capota do carro. Digo que foi por querer, ali é o aeroporto de aviãozinho, e ele me olha admirado; só não alço voo também porque podem inventar imposto pra vô avião.
Este ano, depois de três anos de grandes floradas que deram em nada, a chácara deu mangas. Chupamos, comemos na salada, fizemos suco e sorvete. Dalva virou moleca trepando na mangueira para catar mangas, me joga uma a uma e eu boto no cesto com carinho, cada manga é uma glória!
Jogo a bolota de papel no cesto, de longe, cantando a jogada, “com tabela na parede”, e acerto, me sinto moleque por cinco minutos.
E acho rapidinho no centro, com sombra, pertinho de onde quero ir, uma vaga para idoso!
A moça fiscal vem me dizer que ali é só para idosos, mostro-lhe a credencial, ela pede desculpas, “não pensei que o senhor fosse idoso”, e eu só não levito porque você sabe.
Um netinho me vê enchendo carriola com terra, admirado diz ao outro netinho “o vôvô é forte”, e eu só não flutuo porque podem inventar algum imposto para flutuantes.
No banco, não consigo fazer uma operação no caixa automático, vou ao caixa-gente e sou atendido em minutos!
Acho rapidinho uma vaga com sombra no centro, pertinho de onde tenho de ir!
Encontro um colega de colégio e, depois de meio século, lembro seu nome e sobrenome, ele também fica feliz.
Dalva conseguiu um jeito de acessar filmes na tevê acoplada ao laptop. Que felicidade não depender mais de videolocadoras (até porque quase nem existem mais), nem de pirataria, que assim caminha para também acabar.
O netinho pede aviãozinho, faço, lanço, o aviãozinho faz duas lindas curvas antes de pousar na capota do carro. Digo que foi por querer, ali é o aeroporto de aviãozinho, e ele me olha admirado; só não alço voo também porque podem inventar imposto pra vô avião.
Este ano, depois de três anos de grandes floradas que deram em nada, a chácara deu mangas. Chupamos, comemos na salada, fizemos suco e sorvete. Dalva virou moleca trepando na mangueira para catar mangas, me joga uma a uma e eu boto no cesto com carinho, cada manga é uma glória!
Jogo a bolota de papel no cesto, de longe, cantando a jogada, “com tabela na parede”, e acerto, me sinto moleque por cinco minutos.
E acho rapidinho no centro, com sombra, pertinho de onde quero ir, uma vaga para idoso!
A moça fiscal vem me dizer que ali é só para idosos, mostro-lhe a credencial, ela pede desculpas, “não pensei que o senhor fosse idoso”, e eu só não levito porque você sabe.
Domingos Pellegrini
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