sábado, agosto 26

A camisa do seu clube

Outro dia, um jogador de um grande clube marcou um belo gol e saiu vibrando. Como se tornou normal nessa comemoração, tirou a camisa e jogou-a pela linha de fundo – como um cozinheiro que atira o avental sujo num canto da cozinha depois de um dia à beira do fogão. Todas as TVs mostraram. Nenhum locutor fez tsk, tsk. Fica estabelecido, portanto, que, apesar de custar um cartão amarelo, a camisa de um clube é algo para ser jogada fora, como um trapo inútil.

Serve também para assoar o nariz, ao fim do jogo, antes da entrevista ao repórter. É levada com a mão ao nariz e este é colocado violentamente em erupção, com um som de ronco, seguido – calcula-se – de um derrame de mucos e defluxos que, por sorte, não chegamos a ver. É esta mesma camisa que costuma ser trocada com o adversário e, provavelmente, a do outro jogador virá assim também, viscosa. Somos todos uma grande família.

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Portinari
E há ainda outro gesto comum entre os jogadores e suas camisas: o de enxugar com elas o suor do rosto. Mas, este, sim, é o mais nobre dos gestos. Se é para receber o produto do esforço do atleta que se entregou em campo por suas cores, nenhum pano – nem mesmo a bandeira do clube – será mais adequado para reconhecer tal dedicação. A camisa encharcada é a prova material de sua luta.

Os clubes não gostam que os atletas tirem a camisa ao comemorar um gol, mas apenas porque isto os deixa mal com os patrocinadores – em vez de exibir a marca que ajuda a pagar seus salários, os jogadores preferem desfilar suas tatuagens ou depilações. E não me consta que algum dirigente já tenha repreendido um jogador por se assoar na camisa diante das câmeras.

Nós, torcedores, preferimos quando o jogador faz o gol e sai beijando o escudo. Mesmo sabendo que, ano que vem, ele estará beijando o do inimigo.

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