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Numa pasta de recortes de jornal e num exíguo arquivo no micro cabe toda a minha fortuna crítica.
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É comum, quando choramos, dizerem que parecemos crianças. Pode haver melhor incentivo para nossas lágrimas?
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Os livros espalham o ouro esmaecido de seu outono pelas estantes escuras do sebo.
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A partir da segunda vez, e da terceira, o amor nunca mais é como na primeira.
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Não posso me queixar. Sempre tive uma espécie de ignorância intuitiva.
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Fontes fidedignas nem sempre são as que constam nos rótulos das águas minerais.
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Houve um tempo em que imaginei que a poesia havia me escolhido para alguma coisa grandiosa – justo a mim, com estes modos de polonês tosco.
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Diante do amor, toda cautela é pouca e inútil.
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Um poeta romântico que não tenha morrido pelo menos duas vezes por amor não merece confiança.
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O amor faz aquela figuração toda no trapézio, com sua roupa cintilante, e, quando começamos a gostar dele, espatifa a cara no picadeiro, como um palhaço qualquer.
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E no entanto acabamos sempre voltando a escrever.
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Para evitar ridicularias, os poetas românticos deveriam receber licença de acordo com sua idade, sendo a faixa inicial quinze anos, e a última trinta e cinco.
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Palavras como rosa, mar e primavera deveriam ser sempre ouvidas como se ditas a primeira vez por lábios maravilhados pelo assombro.
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Ao haicai assentam bem a humildade e a modéstia. Ele não é um passarinho se exibindo, aparecendo e desaparecendo no mesmo instante, com um fio de ouro no bico. Ele é só um passarinho que aos olhos certos, em certo instante, pareça ter um fio qualquer no bico.
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Enquanto o poeta romântico prepara um cisne para o jantar, o concretista ronca e sonha com pirâmides e com egitos.
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Se tratamos de graça e beleza, contra gatos não há argumentos.
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