... tive a minha Pasárgada. Tive algumas, para dizer a verdade. Não me invejem ainda. Leiam até o final. Eu tive a promessa de Japões e de Índias e, arrebatado pela loucura desse sonho, fui me desfazendo de minha Vila Santo Estéfano. Fui me desfazendo também de tudo e de todos os que me cercavam. Quem levaria a família, quem levaria os amigos para a sua Pasárgada? Nem tive tempo de sentir-me indigno. Meu coração batia Índia, meu coração batia Japão, e nada mais me importava a não ser isso: a Índia, o Japão, minhas Pasárgadas. Senti-me feliz, confesso isso. Muito feliz. Quem, recebendo a promessa de Pasárgada, tem o direito de se sentir infeliz? Prometeram-me Pasárgada, e eu me julguei um ser superior, a quem ninguém haveria de cobrar explicações. Quem me prometeu Pasárgada jamais há de admitir que fez essa promessa. E perguntará: vocês vão acreditar em mim ou naquele louco? E eu não poderei negar a minha loucura, tão fácil de se comprovar com a simples leitura diária do blog. Tão evidente é esta loucura na qual me afundo, tão palpável! Mas ela não é recente. Ela nasceu no dia em que, tendo renegado tudo para me entregar a Pasárgada, soube que jamais haveria Pasárgada para mim. Jamais olharei para os que me eram caros como olhava, e eles jamais olharão para mim como antes. Eu sou, eu serei sempre aquele que ousou dizer que ia para Pasárgada. Eu sou o tolo que acreditou em Pasárgada e que, mais tolo ainda, conta hoje a história e é capaz de repeti-la pelo resto da vida, por mais que riam da história e escarneçam dele, perfeito otário. É uma história tola, mas não é uma história concebida por um louco. Quem me prometeu Pasárgada me prometeu Pasárgada em nome do amor. Eu o sentia, quem me prometeu Pasárgada jurou senti-lo também. Choro ainda hoje quando leio as arrebatadas palavras com que foi feita a jura. Julguem-me como quiserem. Eu há muito tempo não tenho condições de julgar-me. Quem acredita que o amor possa ainda, no século XXI, enlouquecer um homem, talvez encontre no meu relato algum subsídio.
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