Em coluna recente, comparei o ex-ator e ex-presidente dos EUA Ronald Reagan a uma empada. O leitor Marcos Benassi escreveu para defender a empada --compará-la a Reagan era uma ofensa, ele disse. E com razão. Admito publicamente o ato falho --logo eu, devorador das empadas do Caranguejo, em Copacabana-- e peço perdão. A partir de agora, vou pensar duas vezes antes de usar expressões que diminuam ou ridicularizem os alimentos. Exemplos.
Fulano tem cara de bolacha. Beltrano é o maior pastel. Sicrano não passa de uma galinha morta. E sabe o picolé de chuchu? Isso vai acabar em pizza. Deu o maior sururu. Aquele negócio é um angu de caroço. Já soube da marmelada? Comigo é pão, pão, queijo, queijo. Farinha pouca, meu pirão primeiro. Puxa, que abacaxi! Tem gente que só fala abobrinha. Esse goleiro tem mão de alface --vive engolindo frango. Ih, rapaz, que pepino! Poxa, você me jogou uma casca de banana. Tomei um chá de cadeira.
Isso é do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça. Quer parar de encher linguiça? Futebol é uma cachaça. Não sou de fritar bolinho. Deixe de ser porco, vá tomar banho! Hoje você está um xarope. E você, um purgante. Teu time levou um chocolate! Aquele assunto já virou carne de vaca. Fiz só o arroz com feijão. Houve uma época em que tive de passar a pão e laranja. Fui obrigado a pisar em ovos. Precisamos separar o joio do trigo. Cozinhei o cara em fogo brando. Isso é que nem jabuticaba, só tem no Brasil. Putz, viajei na maionese! Música chiclete essa, hein?
E por aí vai. São raros os casos em que os alimentos servem para expressar conforto, prazer, elogio. Isso assim-assado é um doce de coco. É sopa no mel. Mamão com açúcar. Um chuchu!
Pensando melhor, corretas ou não, vou continuar usando todas as expressões. Os alimentos não estão aí apenas para nos matar a fome. São também nutrientes da língua.
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