Fábulas de animais - incluindo fábulas de peixes mortos que falam - têm estado entre as histórias mais persistentes do cânone oriental; e as melhores entre elas, ao contrário, digamos, das fábulas de Esopo, são amorais. Não procuram pregar sobre humildade ou modéstia ou moderação ou honestidade ou abstinência. Não garantem o triunfo da virtude. Como resultado, parecem extraordinariamente modernas. Por vezes, os maus da fita ganham.
A colecção conhecida na Índia como Panchatantra apresenta um par de chacais que falam, Karataka, o bom ou melhor dos dois, e Damanaka, o malvado conspirador. No início do livro estão ao serviço do rei leão, mas Damanaka não gosta da amizade do leão com outro cortesão, um touro, e convence o leão a acreditar que o touro é um inimigo e a assassinar o animal inocente enquanto os chacais assistem.
Fim.
Nos contos de Karataka e Damanaka também lemos sobre uma guerra entre corvos e corujas em que um corvo finge ser um traidor e se junta às corujas para descobrir a localização da caverna onde vivem. Depois os corvos ateiam fogo em todas as entradas da gruta e as corujas sufocam até à morte.
Fim.
Salman Rushdie, "Linguagens da Verdade"
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