Quando somos jovens, dedicamo-nos às causas grandes. As causas grandes são fáceis de ver e enchem a vista. As causas grandes são gloriosas. E são gloriosamente difíceis. Mas, como somos jovens, pensamos que somos capazes de resolvê-las, ao contrário de todas as gerações anteriores de velhos incompetentes e corruptos.
Mas há outra razão, muito menos falada, para a nossa atração pelas causas grandes quando somos novos: é o fato de as causas grandes serem poucas. É a grande qualidade das causas grandes: para além de sensacionais, são poucas.
São causas como salvar as artes ou a filosofia ou a humanidade ou o planeta. São as causas nobres, pelas quais vale a pena dar a vida. Só quando já fomos derrotados pelas causas grandes — e já vivemos um bocado — é que arranjamos coragem para as causas pequenas.
Já não nos assusta a grande desvantagem das causas pequenas — o fato de serem muitas — porque, entretanto, aprendemos que o fato de as causas pequenas serem incontáveis não deve assustar ninguém, porque basta escolher uma. Ou, porque não?, duas.
E o facto de serem muitas, em vez de nos assustar, anima-nos, porque podemos escolher as causas que mais se adequam às nossas personalidades e aptidões.
Claro que, quando somos novos, também temos consciência das causas pequenas, mas fugimos delas, porque nos parecem mesquinhas e temos causas muito maiores para defender. Mas também fugimos delas por serem muitas e por só conhecermos, por força do pouco tempo que passamos no planeta, uma pequena fração delas.
Aprendemos com as coisas grandes — e não apenas a ser derrotados. Aprendemos a dar o máximo. Assim, quando falhamos como domadores de leões, estamos prontos para lidar com os mistérios de um gatinho.
Ser sábio é saber mudar de ambições. É saber passar do planeta para o país, do país para a aldeia, da aldeia para a rua, e da rua para a nossa casa.
O contrário de ser sábio é ficar preso às causas grandes — e continuar derrotado.
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