terça-feira, novembro 14

Minha tia e seu amado escritor

Quando eu tinha dez anos, uma tia profetizou que eu seria um escritor. Quando eu cheguei aos quinze, ela refez a profecia: eu seria um grande escritor. Hoje, se ela estivesse viva, certamente diria: não perca a esperança, meu querido, nunca.

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Durante minha vida toda carreguei um fardo pesadíssimo que julguei ser literatura e não era mais que um cestinho de vime vazio.

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Felizmente, um haicai nunca será uma obra de fôlego.

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Ontem trajes de seda, pantufas, ambrosias, alfenins, trufas. Hoje trapos, sapatos furados, morangos mofados, migalhas, bulhufas.

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Dizer meus óculos e não meu óculos não é mania de grandeza. É uma exigência gramatical.

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Dizem os concretistas que seria a um deles que Deus recorreria se na Criação tivesse precisado da ajuda de um artista.

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Tantos eram os versejadores já naquele tempo que, no bonde que não tomou, Drummond teria sido o mais ilustre dos passageiros, embora talvez não o único dos poetas.

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Sou hoje uma dessas pessoas com as quais não se deve desperdiçar expressões como bom dia, boa sorte, bom sucesso. Talvez caiba desejar-me bom repouso, que já é bem mais do que hora.

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Dalton Trevisan merecia melhor Curitiba.

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Se ao que fazemos damos o nome de literatura, que nome daremos ao que Shakespeare fazia?
Raul Drewnick

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