sexta-feira, abril 18

De mar e gaivota

Foi meu dedo médio, o mais versado em geografia, que trouxe aos meus lábios a essência salina do teu corpo. Faz muito tempo, já, mas ainda hoje, quando olho para ele, imagino ouvir o grito de uma gaivota.

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Ainda há duas ou três coisas que pretendo fazer. Conhecer-me é uma delas. Até já combinei comigo: será na primeira segunda-feira chuvosa que houver.

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Sempre foi modesta. Quando menina, certa manhã, num bairro de periferia, precisou caminhar três quarteirões para compreender que eram para ela as entusiasmadas saudações do bem-te-vi.

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Perguntam-me como estou, como vou, como tenho ido. Digo que estou bem, que vou bem, e que tenho morrido.

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Quem me dera que os meus olhos fossem ainda aqueles tolos, incapazes de ver a falsidade dos domingos.

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Se não estou morto ainda, talvez seja porque me falte dizer algo sobre a tristeza.

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Longe vai o tempo em que, quando saía para a manhã, ia sempre com os seus melhores adjetivos.

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