Primeiramente, gosto de escrever estórias de fantasmas e nada se encaixa melhor num fantasma do que uma língua morta. Quanto mais morta é a língua, mais vivo é o fantasma. Fantasmas amam o iídiche e, até onde eu saiba, todos o dominam.
Em segundo lugar, não apenas creio em fantasmas como também creio na ressurreição. Estou certo de que, quando o Messias regressar, milhões de cadáveres fluentes em iídiche se levantarão de seus túmulos e a primeira pergunta que farão será: ‘Há algum novo livro em iídiche para ler?’ Para eles, o iídiche não será uma língua morta.
Terceiro: por 2000 anos o hebraico foi considerado uma língua morta. Subitamente ele se tornou estranhamente vivo. O que aconteceu ao hebraico pode também ocorrer ao iídiche um dia, (embora eu não tenha a mínima ideia de como isso poderia se passar).
Há ainda uma quarta razão secundária para não renunciar ao iídiche e esta é: o iídiche pode ser uma língua moribunda mas é a única que eu conheço bem. O iídiche é minha língua materna e uma mãe nunca está realmente morta.
Isaac Bashevis Singer
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