segunda-feira, abril 14

Poema Noturno

Não há nada a temer,
É apenas o vento
Movendo para o leste, é apenas
Teu pai o trovão
Tua mãe a chuva

Neste país aquático
Com sua lua parda e úmida feito cogumelo,
Seus tocos submersos e enormes aves
Que nadam, aonde o musgo cresce
Por todos os lados das árvores
E tua sombra não é tua sombra,
Mas teu reflexo.

Teus verdadeiros pais desaparecem
Quando as cortinas cobrem tua porta.
Nós somos os outros,
Os do fundo do lago
Silentes estamos ao pé de tua cama,
Com nossas cabeças de escuridão.
Viemos para cobrir-te
Com lã vermelha,
Com nossas lágrimas e sussurros distantes.

Tu balanças nos braços da chuva
A fria arca do teu sono,
Enquanto esperamos, teus noturnos
Pai e mãe
Com nossas mãos frias e lanternas mortas,
Sabendo que somos somente
As oscilantes sombras lançadas
Por uma vela, neste eco
Que ouvirás vinte anos mais tarde.

Margaret Atwood

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