Não conseguiu alcançá-lo. Então tomou o carro para segui-lo. E o caminhão rodou por muito tempo até a extrema periferia da cidade, parando à beira de um profundo vale.
Kazirra desceu do carro e foi ver o que estava acontecendo. O desconhecido tirou uma caixa do caminhão e, após ter dado alguns passos, atirou-a no barranco que estava cheio de milhares e milhares de caixas iguais.
Aproximou-se do homem e disse:
-- Vi que você tirou aquela caixa do meu jardim. O que tinha lá dentro? E o que significam todas estas caixas?O homem olhou-o e sorriu:
-- Ainda tenho mais no caminhão, para jogar fora. Não sabe? São os dias.
-- Que dias?
-- Os seus dias.
-- Os meus dias?
-- Os seus dias perdidos. Os dias que você perdeu. Você esperava por eles, não esperava? Eles vieram. E o que você fez com eles? Olhe, eles estão intatos, ainda cheios. E agora...
Kazirra olhou. Formavam um monte imenso. Desceu pela escarpa e abriu um.
Havia lá dentro uma estrada de outono e, longe, Graziella, sua noiva, que ia embora para sempre. E ele nem a chamava.
Abriu uma segunda caixa. Havia um quarto de hospital e, na cama, seu irmão Giosuè, que estava muito mal e o esperava. Mas ele estava viajando a negócios.
Abriu uma terceira caixa. No portãozinho da casa velha e pobre, via Duk, o fiel mastim, que o esperava havia dois anos, reduzido a pele e osso. E ele nem pensava em voltar.
Sentiu alguma coisa aqui, na boca do estômago. O carregador mantinha-se ereto à beira do vale profundo, imóvel como um justiceiro.
-- Senhor! – gritou Kazirra. – Ouça-me. Deixe-me ficar com pelo menos este três dias. Suplico-lhe. Pelo menos estes três. Sou rico. Dou tudo o que quiser.
O carregador fez um gesto com a mão direita, como se indicasse um ponto inatingível, como se quisesse dizer que era tarde demais e que nenhum remédio seria possível. Depois esvaiu-se no ar e, nesse momento, desapareceu também o gigantesco monte de caixas misteriosas. E caía a sombra da noite.
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