Niklas Asker |
Nunca li literatura acreditando que ela seria um caminho para o dinheiro. Li por desfrute. Li para conhecer novas paisagens, culturas diferentes, modos de vida do passado, fantasias de futuro. Também para sonhar e me emocionar. Leio porque aprendo com a amizade entre um esquimó e seu cachorro cego. Aprendo com uma personagem da remota Moscou do século XIX, do mesmo jeito que aprendo com a trama de um romance ambientado na Los Angeles de 2014. A leitura literária ensina com profundidade e - muito importante - de forma lúdica. Quer abrir a cabeça? Procure pela literatura.
A memória da leitura me socorreu em momentos duríssimos da vida. Logo que perdi meu pai, passei dias mastigando algumas linhas do Carlos Drummond: Do lado esquerdo carrego meus mortos. / Por isso caminho um pouco de banda. Em outra ocasião quando senti ter sido injustiçada em uma situação de trabalho, foi Mario Quintana quem veio correndo: Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho! A literatura também consola. E como! Mas o melhor da leitura literária é nos sensibilizar para o outro. Personagens de papel ou de e-book capturam nossa atenção para suas particularidades e diferenças. Você entra na pele de um prisioneiro em Alcatraz, no destino de uma heroína, no coração de um perdedor.
É fato que sempre haverá quem diga: “Ler me dá sono. Só faço obrigado.” É um direito! Mas que pena! Para mim, e talvez para você, a leitura é companheira perfeita. Ela nunca se nega a afagar nossos sentidos. Faz mais ainda: desperta o sexto sentido. Aquele que não cabe na lógica dura, nos cálculos pragmáticos. Ler é a cadeira de balanço da alma.
Fernanda Pompeu
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