Conseguimos roubar quatro horas para nós. Mas o que é “roubar” quatro horas? Niels Petter não achou a menor graça. Só em Førde dignou-se a me dirigir a palavra.
Nós simplesmente subimos o morro a partir do vale.
Meia hora depois, estávamos diante do bosquezinho de bétulas.
Outra vez...
Não dissemos uma palavra no caminho. Sobre aquilo, digo. Falamos de tudo, mas daquilo não. Tal como antigamente. Não fomos capazes de nos posicionar quanto ao acontecido. E assim nós fomos para o brejo, talvez não você enquanto você, nem eu enquanto eu, mas nós dois enquanto nós dois. Não conseguimos nem mesmo trocar um boa-noite. Lembro que passei a última noite no sofá. E me lembro do cheiro do cigarro que você fumava sentado no outro cômodo. Através da parede e da porta fechada, cheguei a ver a sua cabeça inclinada. Você ficou lá, debruçado na escrivaninha, fumando. No dia seguinte eu parti, e nós não voltamos a nos ver. E lá se vão mais de trinta anos. Não dá para entender.
Mas eis que acordamos subitamente de anos de sono de Bela Adormecida — como que sacudidos pelo mesmo sinal milagroso. E, independentemente um do outro, tornamos a nos hospedar lá. No mesmo dia, Steinn, num outro século. Num mundo inteiramente novo. Caramba, depois de mais de trinta anos.
E não me diga que foi mera casualidade. Não diga que não foi orquestrado!
O mais surrealista foi a dona do hotel aparecer subitamente na varanda, ela que naquele tempo era a jovem filha da casa. Também para ela passaram-se trinta anos. Acho que essa foi a grande experiência de déjà-vu da sua vida. Lembra o que nos disse? Que bom saber que vocês continuam juntos, foi o que disse. Essas palavras doeram. Mas não deixaram de ter graça, já que a mulher não nos via desde aquela manhã, na metade dos anos 1970, em que ficamos tomando conta das suas três filhinhas. Esse favor nós lhe fizemos porque ela nos havia emprestado duas bicicletas e um rádio portátil.
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