O Movimento por um Brasil Literário manifesta sua intenção
de concorrer para fazer do País uma sociedade leitora. Reconhecemos como
princípio o direito de todos de participarem da produção também literária. No
mundo atual, considera-se a alfabetização como um bem e um direito. Isto se
deve ao fato de que com a industrialização as profissões exigem que o
trabalhador saiba ler. No passado, os ofícios e ocupações eram transmitidos de
pai para filho, sem interferência da escola.
Alfabetizar-se, saber ler e escrever tornaram-se hoje
condições imprescindíveis à profissionalização e ao emprego. A escola é um
espaço necessário para instrumentalizar o sujeito e facilitar seu ingresso no
trabalho. Mas pelo avanço das ciências humanas compreende-se como inerente aos
homens e mulheres a necessidade de manifestar e dar corpo às suas capacidades
inventivas. Por outro lado, existe um uso não tão pragmático de escrita e
leitura. Numa época em que a oralidade perdeu, em parte, sua força, já não nos
postamos diante de narrativas que falavam através da ficção de conteúdos
sapienciais, éticos, imaginativos.
É no mundo possível da ficção que o homem se encontra
realmente livre para pensar, configurar alternativas, deixar agir a fantasia.
Na literatura que, liberto do agir prático e da necessidade, o sujeito viaja
por outro mundo possível. Sem preconceitos em sua construção, daí sua
possibilidade intrínseca de inclusão, a literatura nos acolhe sem ignorar nossa
incompletude.
É o que a literatura oferece e abre a todo aquele que deseja
entregar-se à fantasia. Democratiza-se assim o poder de criar, imaginar,
recriar, romper o limite do provável. Sua fundação reflexiva possibilita ao
leitor dobrar-se sobre si mesmo e estabelecer uma prosa entre o real e o
idealizado.
A leitura literária é um direito de todos e que ainda não
está escrito. O sujeito anseia por conhecimentos e possui a necessidade de
estender suas intuições criadoras aos espaços em que convive. Compreendendo a
literatura como capaz de abrir um diálogo subjetivo entre o leitor e a obra,
entre o vivido e o sonhado, entre o conhecido e o ainda por conhecer;
considerando que este diálogo das diferenças, inerente à literatura, nos
confirma como redes de relações; reconhecendo que a maleabilidade do pensamento
concorre para a construção de novos desafios para a sociedade; afirmando que a
literatura, pela sua configuração, acolhe a todos e concorre para o exercício
de um pensamento crítico, ágil e inventivo; compreendendo que a metáfora
literária abriga as experiências do leitor e não ignora suas singularidades.
Outorgando a si mesmo o privilégio de idealizar outro
cotidiano em liberdade, e movido pela intimidade maior de sua fantasia, um
conhecimento mais amplo e diverso do mundo ganha corpo, e se instala no desejo
dos homens e mulheres promovendo os indivíduos a sujeitos e responsáveis pela
sua própria humanidade. De consumidores passa-se a investidores na artesania do
mundo. Por ser assim, persegue-se uma sociedade em que a qualidade da
existência humana é buscada como um bem inalienável.
Liberdade, espontaneidade, afetividade e fantasia são
elementos que fundam a infância. Tais substâncias são também pertinentes à
construção literária. Daí, a literatura ser próxima da criança.
Possibilitar
aos mais jovens acesso ao texto literário é garantir a presença de tais
elementos, que inauguram a vida, como essenciais para o seu crescimento. Nesse
sentido é indispensável a presença da literatura em todos os espaços por onde
circula a infância. Todas as atividades que têm a literatura como objeto
central serão promovidas para fazer do País uma sociedade leitora. O apoio de
todos que assim compreendem a função literária, a proposição é indispensável.
Se é um projeto literário é também uma ação política por sonhar um País mais digno.
Bartolomeu Campos de Queirós para
lançamento do MBL, em 2009
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