O fato é que na sociedade de hoje as bibliotecas, além de serem criadas para guardar, registrar e organizar os documentos e as informações, exercem um outro papel mais social. Talvez possamos dizer que estão sendo criadas também com a intenção de se tornar um espaço de convivência, e não apenas de conveniência.
Konstantin Kazanchev |
Convivência com a leitura no sentido amplo da palavra, de que lemos tudo e não apenas aquilo que está escrito. Já se tornou comum ouvir falar no fim dos livros e das bibliotecas. Tais previsões afirmam que o livro de papel e os espaços fechados, com estantes e mesas, ficarão apenas na lembrança de cada um de nós e a informação fluirá de maneira quase instantânea.
De fato, houve uma grande evolução desses espaços desde a criação das bibliotecas até os dias de hoje. Porém, falar em fim é, ao meu ver, um pouco catastrófico, acredito mais na transformação dos espaços.
Hoje, no Brasil, existem muitos programas e iniciativas no sentido de fazer chegar o livro e as bibliotecas a toda a população. São ideias brilhantes, algumas premiadas, que se proliferam por todo o país. Entretanto, ainda é preciso fortalecê-las e também organizá-las.
Não podemos apenas criar os espaços, comprar o acervo e fazer inaugurações. Antes disso precisamos entender o que o leitor deseja ter nesses espaços, e o que busca de verdade. Muitas vezes ele nem sabe o que deseja. Quer apenas ter um novo espaço para preencher seus vazios, para ter um pouco de esperança, um espaço de lazer e convivência.
O espaço da convivência está muito ligado com a questão do prazer de se sentir bem. É sempre algo novo. Algo que atrai. Quando é criada uma praça, todo mundo sabe o que vai fazer ali. Um cinema, um teatro, atrai a todos para o lazer, a convivência e o prazer.
Mas e a biblioteca? Na verdade como esse espaço ”biblioteca” pode ser algo atraente e considerado uma instituição cultural na sociedade de hoje?
Com tantas tecnologias, modernos computadores, rapidez nas informações e outras modernidades sendo oferecidas, fica difícil, em um primeiro momento, imaginar que isso é possível.
Mas se nosso olhar for mais atento, se olharmos com mais atenção, sem critérios pré-estabelecidos, podemos perceber como isso se torna verdade.
Talvez seja bom convidar o outro a olhar também com os nossos olhos, emprestar para ele aquilo que já olhamos. Fazer um convite com palavras silenciosas ou talvez com palavras que falem um pouco mais alto, sem gritar.
Entender o que as pessoas desejam talvez seja o primeiro passo para fazermos as escolhas certas. Escolha do acervo, do espaço em si e tudo que ele pode oferecer.
Não pode ser ao contrário, criar os espaços, selecionar os acervos e abrir a “PORTA DA FELICIDADE”.
Temos que fazer antes um reconhecimento daquilo que aquela comunidade deseja, seja ela escolar, universitária, popular ou especializada. Só assim podemos construir em conjunto. Só assim vira a construção de um desejo e não uma invasão ou imposição de regras e conceitos.
Quem busca deve encontrar aquilo que procura e mais alguma coisa; pode até encontrar aquilo que nunca pensou em buscar e adorou ter encontrado.
A biblioteca pode ser esse espaço interativo, uma instituição cultural que, além de livros e informações em outros suportes, oferece outras práticas distintas, culturais, educativas e de expressão popular, para assim exercer um papel muito importante que também é seu. O papel de atuar no desenvolvimento da cidadania da população que ela atende.
Lucia Fidalgo (Revista Aprendizagem, Edição 05 - mar/abr-2008)
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