O gosto voraz do conde Drácula por sangue fresco deixou um fluxo interminável de vítimas, a começar por seu próprio criador, o autor irlandês Bram Stoker (1847-1912), cuja obra ficou sepultada sob seu personagem, um dos maiores ícones da cultura popular. Para alguns, é um esquecimento merecido – há alguns anos Rogério Fresán se referiu a ele neste jornal como um "criador fraco" com "uma grande obra"–, mas para outros é totalmente injusto porque defendem um escritor com uma dezena de romances, poemas, adaptações teatrais, crônicas e artigos que, entre outras coisas, "cultivou de modo primoroso e feliz a narrativa curta".
O especialista Antonio Sanz Egea, que fez esse trabalho, diz que a tarefa se tornou ainda mais complicada pelo fato de não haver edição canônica em inglês que reúna os contos de Stoker. Isso torna este livro da Páginas de Espuma se não a obra completa – dada a dificuldade e as lacunas–, na obra mais completa de contos de Stoker, afirma Juan Casamayor, diretor da Páginas de Espuma. A tradução para o espanhol foi feita por Jon Bilbao.
Sanz Egea insiste em que os contos de Stoker podem levar até mesmo os mais críticos a revisar sua ideia sobre o autor. Por sua qualidade e enorme variedade, com contos de fantasia, contos de amor, contos históricos e realistas autorreferenciais, contos de aventuras e de piratas que lembram Stevenson ou Conrad, e também, é claro, vampiros e terror gótico no estilo de Poe, explica o especialista. Textos que também podem preencher algumas das grandes lacunas na biografia de Abraham (Bram) Stoker, que fez uma cuidadosa seleção das cartas biográficas e passagens biográficas que não queria deixar para a posteridade.
Sabe-se que, quando criança, ele passou anos prostrado na cama em sua casa em Dublin por causa de uma doença –não se sabe qual– que o uniu de maneira muito especial a sua mãe, Charlotte Thornley, uma mulher aguerrida nascida em um pequeno condado no noroeste da Irlanda e que viveu experiências terríveis em sua juventude. Por exemplo, aos 14 anos, ela cortou o braço de um intruso que tentava entrar em sua casa. Charlotte ensinou o filho a ler e escrever enquanto lhe contava histórias folclóricas de duendes e magia, como aquelas que permeiam Under the Sunset (sob o pôr do sol), seu primeiro livro de contos, publicado em 1881.
Por essa época, o menino doentio já se tornara um grande atleta, passara com mais dificuldade que glória pela universidade, era crítico de teatro, casado com Florence Balcombe –ex-namorada de Oscar Wilde– e se mudara para Londres para conduzir o Lyceum, o teatro de seu amigo, o grande ator Henry Irving. Uma tarefa, a última, que o consumiu –literalmente, com jornadas de segunda a domingo em que terminava muitas vezes dormindo no escritório– durante quase três décadas.
E que o fez deixar em segundo plano sua carreira de escritor, embora na época tenha publicado sua grande obra, Drácula (1897). De fato, embora não lhes tenha dedicado muita atenção, Sanz Egea acredita que deve ter escrito nessa época a maior parte das obras que publicaria mais tarde, quando a morte de Irving, o declínio do teatro e sua saúde debilitada o forçaram a procurar o sustento na literatura. Foi assim que surgiu seu segundo livro de contos, em 1908, um trabalho notável que brinca com a realidade e a ficção, intitulado Snowbound – the Record of a Theatrical Touring Party (Retidos pela neve: registro de uma excursão teatral). Nele, os membros de uma companhia retidos pela neve contam vivências que se transformam em cada um dos contos.
O Convidado de Drácula e Outros Contos de Terror e Mistério, cujo título deixa pouco espaço para dúvidas sobre o assunto, foi publicado por sua mulher em 1914, dois anos após a morte do escritor e justamente quando Drácula, que até então tinha sido uma obra de bastante sucesso, começou a se tornar o ícone universal que é hoje.
É o que está escrito na contracapa de Cuentos Completos de Bran Stoker, obra recém-publicada pela editora Páginas de Espuma, na Espanha, a qual inclui os três livros de contos que ele publicou e outros 27 textos que saíram ao longo dos anos em jornais e outras publicações. Estes últimos foram o resultado de um esforço colossal de busca em obras dispersas e arquivos digitais, que os conduziu a cinco contos que não tinham sido republicadas desde que apareceram em vários jornais britânicos e norte-americanos: eles se intitulam em inglês Our New House (nossa nova casa), The Night of the Shifting Bog (noite do lamaçal ambulante), A Yellow Duster (um espanador amarelo), Story of Senator Quay (a história do senador Quay) e To the Rescue (ao resgate)
O especialista Antonio Sanz Egea, que fez esse trabalho, diz que a tarefa se tornou ainda mais complicada pelo fato de não haver edição canônica em inglês que reúna os contos de Stoker. Isso torna este livro da Páginas de Espuma se não a obra completa – dada a dificuldade e as lacunas–, na obra mais completa de contos de Stoker, afirma Juan Casamayor, diretor da Páginas de Espuma. A tradução para o espanhol foi feita por Jon Bilbao.
Sanz Egea insiste em que os contos de Stoker podem levar até mesmo os mais críticos a revisar sua ideia sobre o autor. Por sua qualidade e enorme variedade, com contos de fantasia, contos de amor, contos históricos e realistas autorreferenciais, contos de aventuras e de piratas que lembram Stevenson ou Conrad, e também, é claro, vampiros e terror gótico no estilo de Poe, explica o especialista. Textos que também podem preencher algumas das grandes lacunas na biografia de Abraham (Bram) Stoker, que fez uma cuidadosa seleção das cartas biográficas e passagens biográficas que não queria deixar para a posteridade.
Sabe-se que, quando criança, ele passou anos prostrado na cama em sua casa em Dublin por causa de uma doença –não se sabe qual– que o uniu de maneira muito especial a sua mãe, Charlotte Thornley, uma mulher aguerrida nascida em um pequeno condado no noroeste da Irlanda e que viveu experiências terríveis em sua juventude. Por exemplo, aos 14 anos, ela cortou o braço de um intruso que tentava entrar em sua casa. Charlotte ensinou o filho a ler e escrever enquanto lhe contava histórias folclóricas de duendes e magia, como aquelas que permeiam Under the Sunset (sob o pôr do sol), seu primeiro livro de contos, publicado em 1881.
Por essa época, o menino doentio já se tornara um grande atleta, passara com mais dificuldade que glória pela universidade, era crítico de teatro, casado com Florence Balcombe –ex-namorada de Oscar Wilde– e se mudara para Londres para conduzir o Lyceum, o teatro de seu amigo, o grande ator Henry Irving. Uma tarefa, a última, que o consumiu –literalmente, com jornadas de segunda a domingo em que terminava muitas vezes dormindo no escritório– durante quase três décadas.
E que o fez deixar em segundo plano sua carreira de escritor, embora na época tenha publicado sua grande obra, Drácula (1897). De fato, embora não lhes tenha dedicado muita atenção, Sanz Egea acredita que deve ter escrito nessa época a maior parte das obras que publicaria mais tarde, quando a morte de Irving, o declínio do teatro e sua saúde debilitada o forçaram a procurar o sustento na literatura. Foi assim que surgiu seu segundo livro de contos, em 1908, um trabalho notável que brinca com a realidade e a ficção, intitulado Snowbound – the Record of a Theatrical Touring Party (Retidos pela neve: registro de uma excursão teatral). Nele, os membros de uma companhia retidos pela neve contam vivências que se transformam em cada um dos contos.
O Convidado de Drácula e Outros Contos de Terror e Mistério, cujo título deixa pouco espaço para dúvidas sobre o assunto, foi publicado por sua mulher em 1914, dois anos após a morte do escritor e justamente quando Drácula, que até então tinha sido uma obra de bastante sucesso, começou a se tornar o ícone universal que é hoje.
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