É tão mais relevante estudar e pensar estes danos colaterais de sermos uma nova espécie de “homo conectus”, quando se advogam novos modelos de ensino nas escolas que incorporam ferramentas digitais nas salas de aula. Vários países já testaram, e há por cá quem defenda, o uso de tablets em vez de livros, de vídeos em vez de textos, de notas nos computadores em vez dos apontamentos escritos à mão. Estas soluções de base tecnológica são apontadas por muitos como a panaceia para todos os problemas do ensino: garantem a adaptação aos novos tempos, a preparação para os desafios de um mundo tecnológico e a superação da aprendizagem por mera memorização. Se não podes vencê-los, junta-te a eles: se os miúdos querem gadgets, vamos então chegar a eles através das coisas de que eles gostam. E foi assim que Silicon Valley e a Google em particular tomaram conta das salas de aula nos Estados Unidos da América, onde os e-books começam a estar em maioria face aos livros em papel. Em Inglaterra foi-se pelo mesmo caminho. Mas a verdade é que está longe de estar provado que uma desmaterialização integral dos recursos educativos traga vantagens inequívocas para os miúdos a longo prazo, além da redução do peso das mochilas e das significativas poupanças para os Orçamentos do Estado.
Vários estudos, aliás, provam o contrário: uma investigação feita na Noruega concluiu que os padrões de leitura e compreensão de alunos que liam em papel eram significativamente melhores do que os que liam apenas em digital. Isto porque o papel dá uma noção espaciotemporal importante para a navegação e a memorização de factos. Este tipo de “marcadores de memória” que o papel oferece não tem (pelo menos, ainda) substitutos tecnológicos à altura. Da mesma forma que, vários estudos o dizem, tomar notas e apontamentos de informação permite melhor apreender e memorizar do que apenas ouvindo ou lendo.
É fundamental que o sistema de ensino se adapte aos novos tempos, estimule a criatividade e a relação de factos e vá além dos métodos escolásticos que obrigam a empinar e a debitar matéria. E tenho a convicção de que as ferramentas digitais podem ser muito úteis, mas apenas como complemento aos velhos livros e aos cadernos. Acabar com o papel nas salas de aula é um perigoso incentivo à superficialidade do conhecimento e à incapacidade de concentração. Ao dar às crianças tudo o que querem e como querem, de forma facilitada, embrulhada e estupidamente digerida, estamos – mais uma vez – a mimá-las demais e a prepará-las mal para o mundo real onde nada se consegue sem empenho e sem esforço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário