Um dos dicionários que adquiri, quando vivia em Londres, foi um dicionário de “As 776 coisas mais estúpidas que jamais se disseram”. É uma colecção que nos tira o fôlego, porque colige os disparates ditos ao longo das diferentes Idades de Ouro da Estupidez. Vou dar-vos, aqui, uma pequena amostra daqueles deslizes a que não só os estúpidos estão sujeitos. Se gostarem, poderei dar-vos, depois, uma segunda amostra.
Corey R. Tabor |
Em primeiro lugar, cito Virginia Guyda, que foi funcionária na Itália Fascista e que assim opinou sobre o item “cultura”: “A cultura é necessária mas deve ser viva e não muito abundante.” A seguir, dou-vos um mimo, da autoria de Johny Walker, campeão de luta de punho (wrist wrestler), informando como conseguira os seus triunfos: “É cerca de 90 por cento de força e 40 por cento de técnica.” E, já agora, este convite de um hotel japonês aos seus hóspedes: “Está convidado a aproveitar a criada de quarto.” Noutro registo, o historiador do Estado do Tennessee, John Trotwood Moore, exprimia assim a sua ilimitada admiração por Andrew Jackson: “Acredito que, depois de Deus, Andrew Jackson foi o maior homem que jamais viveu.” E, já que falamos de política e de políticos, esta pérola da autoria de Alf London (na América), dizendo isto, na sua campanha eleitoral contra Roosevelt: “Onde quer que fui, neste país, encontrei americanos.” Célebre, pelos seus “goldwynismos”, era o produtor cinematográfico americano Samuel Goldwyn, a quem, por altura em que fazia filmar um “western”, vieram dizer que precisavam de mais índios para o que iam filmar: “Tirem alguns do reservatório”, ordenou ele, no seu inglês de trapos, confundindo “reservatório” com “reserva”.
Os políticos são os campeões, neste concurso da estupidez: Orrin Hatch, senador republicano do Utah, explicava assim o seu apoio à pena de morte: “A pena de morte é o reconhecimento, pela nossa sociedade, da santidade da vida humana.” Outro exemplo é esta apresentação feita ao Parlamento, no século XIX: “Apresento-vos o Reverendo Padre McFadden, conhecido em todo o mundo e noutros lugares.” E esta do Presidente da Câmara de Washington D. C., Marion Barry: “Com excepção dos assassinatos, Washington tem uma das taxas de crime mais baixas deste século.” Os políticos, como disse, são os campeões: esta, de um ministro da Informação, na África do Sul (Louis Nel): “Nós não temos censura. O que nós temos é uma limitação àquilo que os jornais podem dizer.” A censura é fértil em atrair os disparates, como se comprova com esta saída do General William Westmoreland, que ficou conhecido pelo seu retumbante fracasso no Vietnam: “Sem a censura, as coisas podem ficar terrivelmente confusas, no espírito das pessoas.”
E, para terminar, mais duas de políticos (sempre os campeões!). Uma, de um legislador irlandês, muito assertivo: ”A única maneira de pôr termo a esta onda de suicídios é tornar o suicídio uma ofensa capital, punível com a morte.” E, por fim, esta deliciosa proclamação oficial do Partido Comunista Chinês, em 1971: “Fazer amor é uma doença mental que desperdiça tempo e energia.
Eugénio Lisboa, Revista "LER", Verão de 2018
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