terça-feira, setembro 25

Poesia, provérbios, chatos

Alberto Macone

Numa tentativa de lirismo, o passarinho pousa no poema concreto.

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A poesia e eu nos dávamos melhor no tempo em que não nos conhecíamos tão bem.

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Vende-se poema concreto na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Corretores no local.

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Narciso foi o precursor das selfies.

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Escrever tem sido só o que faço. Escrevo, escrevo. Sobre o que escrevo? Acho que, basicamente, sobre o ato de escrever.

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Quem oferece afeto, só, é um sovina, mesmo que se trate de um primeiro encontro.

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Estive pensando no que eu faria hoje, se depois de tantos anos te encontrasse. Já sei. Com todo o respeito, ou nenhum, te daria um tapa na bunda.

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Não tenho nada. Tudo me falta. Meu único orgulho é minha pressão alta.

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Sou um homem moderno. Seja qual for o fato, aceito sempre a pior das versões. Se me dizem que alguém é desonesto, acredito imediatamente.

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Morrer é uma atividade da qual ainda não fomos chamados a participar.

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Um chato é sempre um contador de histórias perfeito, talvez porque conte sempre a mesma: a própria.

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Nada como as biografias. Elas conseguem transformar num fato precioso até a mais dolorosa das fomes da infância.

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O chato reformula ininterruptamente sua teoria sobre a criação do mundo e naturalmente faz questão de nos manter atualizados.

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A maioria dos provérbios não resiste quando expostos ao sol.

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Os provérbios respeitáveis devem ter pelo menos cinqüenta anos e andar sempre com os documentos comprobatórios.

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Os provérbios já nascem antigos.

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Um provérbio que conheci outro dia me garantiu que freqüentou o colégio Dom Pedro II.

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Um poema concreto é comedido. Cai do alto da prateleira e não dá um gemido.

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Os sonetistas costumam ser muito piores que os sonetos.

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