***
Dizer que entre os gatos e os sofás há uma espécie de fetiche é quase uma imposição estatística.
***
Mãe, o gato me arranhou, queixa-se a menina, mostrando o dedo ferido pelo bibelô estilhaçado.
***
Não acredito, rapaz. Me disseram que Sócrates tomava cicuta sem gás.
***
A literatura consiste, no fundo, em juntar palavras com certa lógica. Esse é que é o problema.
***
Quando a carne não se mostra suficientemente fraca, sempre lhe damos uma ajudazinha.
***
Sou um poeta com espírito de vereador. Presto contas quase diárias dos meus atos poéticos, na presunção de que tenho leitores.
***
Vanguardista é quem em qualquer tempo precisa estar sempre à frente do seu tempo.
***
Sonhei que estava num bonde. Admirava a paisagem, as mulheres com suas saias, os homens com seus chapéus. Da calçada gritaram: bom dia, poeta. Alguém do bonde respondeu: bom dia. Era Mário de Andrade.
***
Após tanto Nobel falho, sem contar os Jabutis, coloco os pingos nos is: sei hoje quanto não valho.
***
Ora, desdenhareis, mais um soneto? E eu vos responderei que não. São só dois quartetos e dois tercetos.
***
Um minuto antes de desabarem as torres, ouviram-se vozes: eram os três tenores.
***
Hora de romper os grilhões. Fazer sonetos nunca mais. Já não bastam os de Camões e os de Vinícius de Moraes?
***
Ver a condessa mordiscando biscoitos talvez fosse suportável, se ela recolhesse as migalhas com uma língua menos minuciosa e se nos seus olhos não houvesse aquela chama que induzia a todos os pecados.
***
Sou lerdo, confesso. Só agora, aos oitenta, me afeta a crise dos setenta.
***
Quando no terceto final ele se ajoelhou e pediu piedade, os críticos se condoeram: era um soneto de meia-idade.Raul Drewnick
Nenhum comentário:
Postar um comentário