O menino tinha 5 anos e algumas convicções. Uma delas era não gostar da escolinha. Toda tarde, quando precisava ir, ele protestava, chorava, esperneava. Só depois de muita resistência acabava indo. E ia porque outra de suas convicções era a de que não havia um gato mais bonito que o da dona da escolinha.
O gato se chamava Bonito – o menino pronunciava Monito – e ficava escarrapachado num sofá, na secretaria da escola. Por isso, as mães de alguns alunos diziam que ele era o secretário da escola.
O menino via o gato só na entrada e na saída, mas sabia – essa mais uma de suas convicções – que, de todos os meninos e meninas da escola, era dele que Monito mais gostava. Esses dois momentos únicos serviam para tornar menos sofridas as tardes do menino.
Um dia, ao chegar à escola, ele não viu o gato.
“Cadê o Monito?”, perguntou, primeiro à mãe e depois à dona da escola.
As duas trocaram gestos e ele ficou sem resposta. Na saída, o sofá vazio o fez repetir a pergunta. A dona da escola, dando-lhe um beijo, disse que o gato estava viajando.
Na tarde seguinte, o menino quis novamente saber do gato e a dona da escola respondeu que ele tinha ido para o céu. Por uma semana o menino perguntou se Monito havia voltado. Sem o gato, as tardes se fizeram insuportáveis para ele. Agora, dava ainda mais valor aos sábados e domingos, dias em que ia à casa do avô para brincar com ele.
O menino não trocaria o avô por nenhum outro. O máximo que aceitaria fazer seria mudar uma coisinha ou outra nele. Por exemplo, gostaria que ele soubesse brincar um pouco melhor. O avô tinha boa vontade, esforçava-se, mas não sabia brincar direito de nada: nem jogar bola, nem empurrar carrinho, nem lutar espada.
Um domingo, o menino propôs ao avô que fossem ao quintal para experimentar a eficiência de um revólver espirrador de água. No começo, o avô se saiu muito bem. Os dois puseram uma lata sem tampa no chão e, em dez minutos, recarregando várias vezes o espirrador no tanque e revezando-se nos disparos, conseguiram enchê-la até transbordar. Uma façanha! O garoto se pôs a pular:
“Viva! Viva! Nós dois, vô, somos os maiores enchedores de lata do universo.”
O problema ocorreu depois. Vendo uma aranhinha no muro, o avô sugeriu uma brincadeira: fazer, com os jatos do revólver, um círculo em volta da aranha. Seria um rio que ela teria de atravessar. O menino aprovou a ideia e, com três disparos certeiros, desenhou uma parte do círculo. Depois, passou o revólver ao avô. Foi um grande erro. Com a inabilidade de sempre, o avô apertou o gatilho e atingiu a aranhinha em cheio.
“Para, vô”, gritou o menino, mas o avô já havia disparado mais um jato forte e acertado de novo a aranha, que ficou grudada no muro.
“Acho que ela morreu, vô.”
O avô disse que não, que ela estava viva, mas era mais um de seus enganos. A aranha estava morta, bem morta, e o menino começou a chorar.
“Calma, calma”, pediu o avô. “Chorar por quê? Ela agora vai para o céu.”
Ao ouvir isso, o menino, chorando ainda mais desconsoladamente, correu para a cozinha. Voltou um minuto depois, com uma caixa de fósforos vazia. Pegou a aranhinha com muito cuidado e colocou-a dentro da caixa:
“Ela não vai pro céu nada. Eu não deixo. Se ela for, ela não volta nunca mais, eu sei. Ela vai ficar comigo. Comigo.”
Foi a primeira vez que olhou com ressentimento para o avô.
Raul Drewnick
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