Lera Kiryakova |
O Presidente Marcelo insistiu, há dias, na ausência de interesse pela leitura, e na necessidade de se inverter essa tendência. Lê-se pouco, muito pouco, aqueles dos autores que nos ensinaram a entender o mundo e os homens. E há, em demasia, programas sobre futebol, que constituem enxúndias de destroços morais e mentais.
Os mecanismos do poder moderno e da arte de governar dissolvem as questões essenciais, centradas nos aspectos mais supérfluos do nosso viver. Sei muito bem que o desvio dessas imposições conduz a resultados imprevisíveis.
O meu saudoso amigo Carlos Pinhão contou-me que tentou fazer, n’A Bola, uma inversão de valores. Estávamos, ainda, no rescaldo do 25 de Abril, e as coisas pareciam ter justificação. A intenção daquele querido companheiro gorou-se. E as tiragens do jornal caíram, de tal forma que tiveram de voltar ao costume.
Claro que o assunto escapa a toda a consideração formal do fenómeno político, mas não pode fugir a uma análise, mesmo superficial, dos modos de exercício do poder moderno e das debilidades da crítica de costumes. Para aonde vamos?
Estive doente durante quinze dias e apercebi-me do vazio inextrincavelmente ligado à ausência de conflito de que as televisões são espelho e regra. O futebol é tido e havido como a custódia das nossas urgências. E, com um mínimo de atenção, verificamos que o futebol tomou conta das nossas vidas, criando uma tensão peculiar que faz com que os seus mais fanáticos utentes e consumidores se ausentem dos aspectos mais prementes e complexos da suas vidas.
Baptista-Bastos
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