(…) Claro que eu, como leitor incansável, tinha as minhas ambições. Também queria escrever um livro. Sentava-me frequentemente em frente de uma máquina de escrever e escrevia coisas que deitava fora. Raramente ia além da segunda página. Cheguei mesmo a pensar escrever um livro só com inícios. Inícios de romances. Sempre gostei dos primeiros parágrafos dos livros e até achei que poderia ser uma boa ideia: um livro feito de inúmeros livros que não acabavam, um livro feito de começos. No fundo, um livro como a nossa vida. Sabemos mais ou menos como começou, mas não fazemos ideia de como acaba. Seria mais realista se escrevêssemos a vida só com primeiros parágrafos, pois os finais, no que respeita a nós mesmos, são uma fantasia.
Afonso Cruz, "Enciclopédia da Estória Universal – Arquivos de Dresner"
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