Nossos deuses tinham chifres em suas cabeças, ou luas, ou barbatanas, ou bicos de águia. Nós os chamávamos de Onipotentes, nós os chamávamos de Brilhante. Sabíamos que não éramos órfãos. Sentíamos o cheiro da terra e rolávamos nela; seus sucos corriam por nossos queixos.
2. Na segunda era, criamos o dinheiro. Esse dinheiro também era feito de metais brilhantes. Tinha duas faces: de um lado, uma cabeça decepada, a de um rei ou outra pessoa notável, do outro lado, algo mais, algo que nos daria conforto: um pássaro, um peixe, um animal peludo. Isso era tudo o que restava de nossos antigos deuses. O dinheiro era pequeno, e cada um de nós carregava um pouco dele todos os dias, o mais próximo possível da pele. Não podíamos comer esse dinheiro, usá-lo ou queimá-lo para nos aquecer; mas como que por mágica, ele podia ser transformado em tais coisas. O dinheiro era misterioso, e o admirávamos. Se você tivesse o suficiente, diziam, você seria capaz de voar.
Margaret Atwood
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