terça-feira, fevereiro 11

O dia morria...

Gordas moscas erravam lentamente naquele muro de carne, zumbindo. O fruto maduro do dia tornava-se sorvado, apodrecia, e no ar cansado, já corroído pelas primeiras sombras da noite, o céu, o cruel céu de Nápoles, tão puro, tão terno, lançava uma suspeita, um remorso, um comprazimento triste e fugitivo. Mais uma vez o dia morria. E, um a um, voltavam a refugiar-se na noite, como veados, gamos e javalis na selva, os sons, as cores, as vozes, esse sabor de mar, esse cheiro de louro e de mel, que são o sabor e o cheiro da luz de Nápoles.

Curzio Malaparte, "A pele"

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