Um sebo é
como um decantador do livro. Quantas glórias passam pelas mãos do livreiro!
Valem bem pouco em livro como valeram em vida. Parecem mesmo
confirmar o dito de que toda glória é fugaz. Aquele, que foi sucesso fabricado
pelos editores, abusou de um tempo de glória ligeira de alguns dias na lista
dos dez mais. Agora vive seu ostracismo. Se for lembrado, algum dia, pode
deixar vaga na prateleira. Mas é certo que voltará. Os editores aplicam
dinheiro na divulgação, conquistam espaços em suplementos dos jornais, podem
até mesmo ser presenteados com a citação de um artista ou, quem sabe, aparecer
numa novela de televisão na mão da atriz do momento. O merchandising produz
milagres. Mas são temporários. Lembra muito mais um espetáculo de ilusionismo.
E o livro segue para o sebo – alguns títulos vão em cambulhada. Se
escapar da banca de saldos, que é onde o livreiro tem retorno rápido, a maioria
vai mesmo para o papeleiro.
Não acontece
isso com os que hoje são clássicos. Pode parecer saudosismo ou leitura de
velho. Acontece que cada vez mais se empulha o leitor com cada porcaria de se
lastimar. As obras que sobrevivem vão ser venda certa em qualquer época.
Garantem fama com os anos; são procuradas em qualquer edição. Não vendem como
best-seller, mas saem regularmente da prateleira para o leitor.
É uma outra
lição que o convívio com a livralhada vai ensinando. Não adianta se fabricar
sucesso. São necessários os anos para decantar o livro. É com o tempo que se
confirma o escrito. Se valem hoje é que eram bons também ontem. O tempo é que
não era para eles. Mas como o vinho, os velhos autores são os mais saboreados,
e têm um gosto! Talvez até pode se citar o ditado: “O que é bom já nasce feito”
.
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