Levo uns dias desfazendo minha biblioteca e está sendo o
pior pesadelo que já sonhei. A casa está cheia de caixas de plástico vermelho,
dessas que se usam para carregar maçãs do mercado aos bares. Ali dormem
esperando a mudança a uma casa mais modesta. Ali convivem Duras e Pavese,
Berceo e Faulkner... Mas que livros escolher?
De alguns tenho mais de uma edição (quem sabe o prólogo de
Valverde, que comprei economizando e economizando, e o que me deram de
presente), mas tenho de escolher... Então descarto esse autor e vou a outro.
Mas volto a repassar o mesmo. E assim levo semanas esticando a tragédia.
E logo estão as dedicatórias (uma antologia de Luis Rosales
em Plaza&Janés, capa dura, que comprei na Feira do Livro e de Ocasião,
pouco antes de sua morte e que autografou na rua Altamirano, em sua “casa
inflamada”), de amigos ou quase esquecidos ou já mortos, Montalbán, Valente,
Hierro, José Saramago, Cela, Atxaga, Félix Grande... Claro, intocáveis. Ou os
comprados em Bilbao, Menorca, Barcelona, Sevilha, Genebra, Londres, Paris... Quer
dizer, minha vida.
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