segunda-feira, setembro 22

Parra, o centenário


"Advertência ao leitor", na voz do poeta

Todos no Chile estão homenageando os 100 anos desse que é um poeta nacional. Nicanor Parra Sandoval ainda conduz seu próprio Fusquinha. Detesta o saudosismo ou a melancolia, que vê como a pior das pestes. À espera da fofoca ou do relato fantasioso mais recente, visitá-lo é um exercício intelectual de alto risco que pode deixar a pessoa mais jovem esgotada. Obcecado há meses pela cueca (dança nacional chilena) com piano, a coluna de opinião como forma de poesia ou a linguagem dos manobristas de carros, o professor de física Parra converte seu interlocutor em outro experimento desse laboratório espartano em que se converteu sua casa de Las Cruces, situada entre o túmulo de Vicente Huidobro, em Cartagena, e a casa de Pablo Neruda em Isla Negra.

Entre a série de comemorações está o lançamento de “Temporal”, livro inédito do qual até o próprio Parra havia se esquecido. Trata-se de uma crônica do transbordamento do rio Mapocho no inverno de 1987 e, ao mesmo tempo, de uma denúncia da ditadura, uma tentativa de voltar a pensar a poesia política longe da propaganda ou da denúncia, conseguindo que nela confluam as vozes de vítimas, transeuntes, jornalistas e autoridades. 

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