Na encadernação está um bocadinho de nós, um bocadinho do livro e um bocadinho da pessoa que o quis encadernar
Andreia dos SantosAvô, pai e filha. Três gerações a cuidar dos livros das nossas vidas. Podem até nem ser muito antigos, mas são sempre especiais. A Arte no Livro é uma livraria-oficina, mas também museu. Se não se deve julgar um livro pela capa, talvez se possa julgar pela encadernação.
Abriu em Novembro de 2014, mas tudo começou muito antes, em 1928, quando Vítor Santos tinha apenas 11 anos e foi trabalhar com livreiros em oficinas de restauro e encadernação, em Lisboa. O filho e a neta querem agora manter viva esta prática artística morosa, que exige paciência e persistência. Por isso, na livraria-oficina Arte no Livro, em Cascais, cada obra é tratada como única. Mesmo que dela tenham sido produzidos milhares de exemplares, como "Capitães da Areia", de Jorge Amado.
“Não era uma edição muito antiga, mas a cliente disse-nos que era um livro importante para ela. Foi um dos primeiros que leu, ainda em miúda, e [por isso] tinha um valor emocional inestimável”, recorda Andreia dos Santos, a neta do mestre Vítor Santos. No pedido de encadernação deste livro de um dos autores brasileiros mais lidos de sempre, a cliente deu-lhes liberdade total para fazer aquele trabalho. “Total não. Não queria que usássemos verde”, corrige depois, sorridente.
O resultado foi “uma encadernação que só podia ser para aquele livro e que reflectiu tudo”, diz. E explica: “A história é lindíssima, eu conheço bem. A encadernação foi feita em pele, carneira, e foram gravados os nomes dos personagens principais, a seco.” Fernando dos Santos, o pai, acrescenta: “A quente.”
A filha continua: “Foi colocada uma estrelinha no céu. Porque há uma personagem que morre [Dora] e gravei na contracapa a frase que ele escreve [‘Uma estrela de longa cabeleira loira, uma estrela como nunca tivera nenhuma na noite de paz da Bahia’]. Visualmente, fazia a ligação com a estrelinha que estava na capa.”
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