Jean Pierre Gibrat |
Quem julga não precisar ler ficção, normalmente, é pessoa absolutamente desprovida de imaginação. Não que a imaginação seja necessária para a ficção, mas sim que ela o seja para a vida: só quem não a possui consegue achar que a vida não terá surpresas, quando elas esperam atrás de cada poste e debaixo de cada folha de grama. Quem não ama a ficção, todavia, prova-se incapaz de amar a própria vida, e não é à toa que seja tão comum que tais tipos se dediquem a ofícios em que a mediocridade absoluta é condição sine qua non para o sucesso – normalmente, aqueles em que se confunde o que deveria ser um fim e o que deveriam ser meros meios.
É na ficção, que é sempre o fruto da pena de um ser humano, que podemos conhecer em toda a sua profundidade a natureza humana, vivendo vicariamente centenas de vidas, sofrendo tentações que nunca nos atingiram no mundo real e alcançando vitórias que só a um dentre mil homens seria dado viver. É nela que aprendemos que o mundo é complexo, infinitamente mais complexo, por mais paradoxal que isso possa ser, que qualquer obra de ficção. É por ela que somos apresentados, antes que nos chegue a vez, aos mistérios que se repetem a cada geração: o amor, a traição, a paternidade e seu instinto de proteção, o voto que obriga para sempre, a dor e, mais ainda, a boa morte. Afinal, em uma sociedade em que os moribundos são escondidos na UTI é mais que salutar lermos sobre mortes heroicas ou sobre sacrifícios de si em favor de todos os demais ou de causas maiores: é extremamente necessário.
É pela ficção, em suma, que aprendemos a viver humanamente e nos preparamos para dar nosso melhor. É ela a mestra que nos leva pela mão além da mediocridade cotidiana.
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