terça-feira, outubro 4

Carta de detento a Coelho Netto, pedindo um livro

Casa de Detenção do Distrito Federal, em 1933
Sr. Doutor Coelho Netto

Imagination:
Paz e socego em vosso lar e que vossos passos seja iluminado (sic).
Sou um condenado quem lhe escreve, e para isso enchime de coragem. Encontro-me condenado a vinte e poucos meses de prisão já tendo cumprido a metade da pena. A vida como V. Excia. e profundo conhecedor tem mistérios que não podemos prescultá-los, e por isso recuso-me em descrever-lhe o motivo da minha prisão, sendo ainda jovem, tenho na cidade de Campos meus pais e irmãos.

Encho-me agora de coragem . Aos domingos compro com enorme dificuldade o jornal do Brasil, e sinto grande resignação para o sofrimento quando leio os vossos artigos dominicais. Não tendo dinheiro para comprar uma obra de vossa autoria oh sabio, humilho-me em pedir-vos que por graça me conceda a suprema ventura de possuir um livro de vossa autoria. Comprar não posso, então em pagamento que vos ofereço? Uma prece ao grande Deus, que vos ilumine oh sublime espírito de sábio e escritor que com um único artigo, leva ao coração de um homem o arrependimento e a resignação.

Deus vos guarde

Vosso servo

Hildebrando Mello Pedra
detento

(Anais da Biblioteca Nacional, vol. 78, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1958, pp. 346-347)

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