Vin Ganapathy |
O amor deveria ser como um passatempo domingueiro, um passeio pelo parque, uma troca de sorrisos e beijos miúdos – nada que obrigasse ninguém a nenhum compromisso, a não ser talvez o de um novo encontro no domingo seguinte, desde que, naturalmente, houvesse sol.
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Aos domingos, se trabalhassem, os poetas deveriam ter licença para falar apenas de flores e bem-te-vis.
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As falhas bem que poderiam prescindir de nós e cometer-se por si sós.
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Na estante os livros que mais têm impressões digitais são os romances policiais.
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Amor? Hahaha. Conte outra.
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Do amor não ficará um clamor. Talvez só um rumor, um bulício. E o que pensa ser o amor para querer mais do que isso?
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Me agradaria ter uma carrocinha e ser encarregado de recolher toda noite as estrelas caídas por descuido do céu e levá-las aos orfanatos em que vivem os meninos mais tristes e as meninas mais sonhadoras.
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Não me acharias tão mofino assim, se conhecesses o menino que há dentro de mim.
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Em certos mortos é fácil ver que, se não fosse o rigor imposto pelas circunstâncias, explodiriam em gargalhadas ao ouvir, no seu último dia, os elogios que durante a vida toda lhes foram negados.
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Sobre os túmulos de homens que foram humilhados pelo amor, regados pelo mijo dos cachorros vadios, nascem flores mirradas e doentias, que parecem mocinhas tuberculosas tossindo sob um sol de inverno.
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Na história de Julieta e de Romeu, só ficou vivo quem não morreu.
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Pensar é tão cansativo… De que me serve saber por que razão estou vivo, se posso apenas viver?
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E chega o momento, afinal, em que morrer passa a ser um direito adquirido.
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Se queres ter paz, não queiras ter nada.
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Até para não fazer nada é preciso ter alguma persistência.
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Nunca precisei vender um poema para matar minha fome. Essa é possivelmente a principal causa do meu fracasso.
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Frases curtas podem significar que a concisão foi respeitada, como deve. Mas podem denunciar também a preguiça de quem escreve.
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Para ser completo, falta-me tudo.
Raul Drewnick
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