Confesso: às vezes, sou uma maria-vai-com-as outras… Antes de ir para férias, a minha amiga Aldina Duarte, fadista, pediu aos seus amigos facebookianos que lhe aconselhassem livros. Na altura, o escritor Mário de Carvalho recomendou-lhe a leitura de O Homem Que Via Passar os Comboios, de Georges Simenon, e eu, que estava a acompanhar as sugestões, fiquei logo com a pulga atrás da orelha porque nunca tinha lido o romance, quiçá porque raramente me vire para autores de policiais. O livro, ao que parece, está esgotado, mas tive sorte: o Manel tinha a velhinha edição da Dom Quixote nas suas estantes (embora eu creia que o tenha na colecção MilFolhas, do Público, mas já não tenho a certeza nem sei onde está). E não é um policial, embora inclua mortes e perseguições; é um romance psicológico surpreendente publicado no final dos anos 1930 (com a guerra à porta) que acompanha Kees Popinga, o protagonista, num périplo curioso, de Groninga (onde era apenas um bem-comportado e um contido funcionário de uma empresa naval) até Paris (onde, depois de assassinar a amante do patrão, deambula por bares e cabarés, mata mulheres a sangue-frio e desafia permanentemente a polícia e os jornalistas, oferecendo-lhes pistas sobre o seu próprio paradeiro e comentando com ironia as notícias que vão saindo sobre os seus crimes). Inesperadamente, achei o estilo algo reminiscente de autores da Europa Central, como Walser ou Marai (Simenon é belga), o que muito me agradou, e apreciei muitíssimo esta metamorfose que mostra como os homens são cheios de mistérios e recalcamentos e, não raro, por detrás de um choninhas está um tipo agressivo e violento. Se o encontrarem por aí, não fiquem a ver passar os comboios.
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