quarta-feira, março 8
Carta à escritora
Só queria lhe dizer que a admiro profundamente… Li seus livros com devoção… Quando tive que me desfazer da minha biblioteca — que nunca foi grande, mas tampouco pequena —, não fui capaz de dar todas as suas obras… Assim, conservo No cimo do mundo e às vezes recito de cor alguns trechos… Para mim mesmo… Li também seus contos, mas esses desgraçadamente fui perdendo… Aqui saíram em antologias e revistas e algumas chegavam à minha cidade… Havia um sujeito que me emprestava coisas raras… E também conheci um escritor de ficção científica… Para muita gente, o único escritor de ficção científica do meu país… Mas não acho… Remo me conta que a mãe dele conheceu outro faz mais de dez ou quinze anos… Chamava-se González, ou é o que meu amigo crê recordar, e era funcionário do departamento de estatística do Hospital de Valparaíso… Dava dinheiro à mãe de Remo e às outras garotas para que comprassem seu romance… Editado com seu próprio dinheiro… Assim eram as tardes de Valparaíso, completamente vermelhas e estriadas… González aguardava do lado de fora da livraria e a mãe de Remo entrava e comprava o livro… E, claro, só venderam os livros que as garotas e os rapazes do departamento de estatística compravam… Remo lembra do nome deles: Maite, dona Lucía, Rabanales, Pereira… Mas não do título do livro…Invasão marciana… Voo à nebulosa de Andrômeda… O segredo dos Andes… Não posso imaginar… Talvez algum dia encontre um exemplar… Depois de lê-lo, irei lhe mandar como uma modestíssima retribuição às horas de alegria que a senhora me deu…
Seu,
Jan Schrella
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