É num domingo chuvoso que se pode pensar e observar a caminhada lenta dos números do relógio. Do 1 ao 12, que se posicionam em círculo, ao som do tic-tac, vez ou outra espio e estão todos, silenciosos, trabalhando, uns após os outros, velhos companheiros de ponteiros, aliados, com uma única missão: varrer os segundos, os minutos e as horas para fora do momento presente. Incessante, a água não para de cair lá fora, lavando ruas e calçadas. Enquanto isso, invisível, ele, o tempo, vai fazendo seu trabalho de expansão, a partir de si mesmo, em mudanças impossíveis de testemunhar.
A vida e os acontecimentos que a envolvem todos os dias é cercada por números de forma muito intensa, marcante, real e, numa observação mais questionadora, é possível afirmar que os “números” são orientados para o tempo porque determinam seu avanço com registros, com datas, com valores. Há quem diga ainda que os números, com toda sua energia tridimensional, especialmente aqueles que têm efeito mágico ou esotérico, são próprios desse nosso mundo e que em outros planetas, outras galáxias ou dimensões, ou seja lá que nome tenham, eles não existem porque não se aplicam a conceitos ou entendimentos próprios desses lugares. Queremos fugir de alguns números que assombram, como a idade madura que, todo ano, insiste em avançar uma casa numérica: contudo, por outro lado, amamos e idolatramos outros, por retratarem datas queridas ou dias inesquecíveis.
A linguagem do tempo não é opção individual de aprendizado e, sim, um destino do qual ninguém pode fugir: ela nos é imposta no momento do nascimento, com todo o seu simbolismo de numerais que nos acompanhará pelo resto da existência. Quando crianças, precisamos aprender a matemática para sobreviver num mundo de somas, subtrações, divisões, multiplicações. Depois de adultos, descobrimos que as exatidões não existem como nos foi ensinado, mas já é tarde, estamos atolados no universo dos anos que passaram, das contas de banco, das placas de carro, dos calendários cheios de compromissos. Inútil tentar aprender completamente esta língua sem palavras, sem verbos, sem respostas do enigmático Sr. Tempo, com toda a diversidade e dificuldade que lhe é peculiar. Por isso, preciso respeitar o que não tem explicação.
Elyandria Silva
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