É um longo aprendizado, a infância. O resto da vida, por mais que você viva, vai apenas conferir. A cada passo, tratamos de verificar se é mesmo como a gente, criança, já sabia. Não há curso de graduação ou pós-graduação, na melhor universidade do mundo, que consiga ensinar o que uma criança aprende. Aprende e apreende. Tudo sozinha. Talvez por isto, porque é só, porque está disponível, a criança absorve os milhentos saberes de que precisa para viver. Sobreviver.
Pois é. Enfim, está aí agosto. Impossível não pensar na rima. Agosto, desgosto. Eu mesmo mais de uma vez já andei especulando sobre isto. Primeiro, é culpa da rima. A paremiologia é muito parnasiana. Pode versejar de pé quebrado, mas não se esquece da rima. Rima pobre, pouco importa. Toante, ou assoante. Mas tem de rimar. Rima e é verdade, se diz. Daí, agosto, mês do desgosto. Como um decreto de superiores potestades. Ninguém escapa.
Por mal dos pecados, tem havido coincidências funestas aqui entre nós. Para não falar de outros exemplos, bastam os dois clássicos. E recentes. Dois coices no meu peito. Eu ia dizer que trago as feridas até hoje. Mas não vou exagerar. Digo então que trago no peito as cicatrizes. Cívicas, emocionais. 24 de agosto, o suicídio. Fato único na história do mundo. O tiro do Getúlio deixou um eco que assusta. É como um grito no escuro. Grito de dor numa gruta sem saída. E para sempre.
Foi em 1954. Sete anos depois, 1961, a renúncia, em 25 de agosto. O Jânio agora está morto. Nada mais vivo, porém, do que a sua renúncia. Meia morte, a renúncia no caso trouxe também o selo de uma incógnita. O que me intriga, mais que o gesto de um e de outro, é o Brasil. O destino deste país em que, dizem, nada acontece. Não sou de agosto, nem sou supersticioso. Mas escrevo com alguma dificuldade. Bater à máquina fazendo figa não é fácil.
Otto Lara Resende
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