Carlos C. Laínez |
Cedo descobri, numa antologia de 1967, da saudosa editora Sabiá, que minha mãe era uma das mulheres de Vinicius. O livro amaciado de muito manuseio também acabou passando por minhas mãos. Eu menina também me deitava num chão de morangos, também me chamava Maria, e era flor de melancolia, me chamava Ariana, uma amiga entre as amigas que se perdiam e achavam gosto em se perder. Quis ser também a onda que o poeta via, distante das praias, e das luas quis ser a que reflete na água, e ser o ventre novo no qual um pensamento de amor semeia sua continuidade.
Tudo o que Vinicius fazia com as palavras para encantar a namorada desconhecida me alcançava, seu ar trágico de tão apaixonado, seu confessar-se menino de alma delicada, sua tara pela beleza das mulheres meninas garças. Queria me fazer cada uma de suas palavras, ser mar de acolher suas âncoras de promessa, ser a face imaginada, vinda do futuro, a face da ausente, resto de nuvem, ave de tempestade. Que polícia, que tribunal dos bons costumes, que nada. Eu menina me deitava com Vinicius, ele o meu monstro de delicadeza, eu uma de suas amigas ignoradas.Mariana Ianelli
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