Antes de ser social e financeiro, talvez seja um castigo biológico, de que ninguém escapa. Ou escapa, mas pela única alternativa – a morte. Quando um sujeito morre inteiro e sem sofrimento, dizem os franceses que morreu "en beauté". Morreu bonito, antes de ficar velho, ou idoso, o que sem eufemismo quer dizer decadente e feio. Um bagaço. Ou um museu, como diz a gíria da meninada carioca. Menino não tem eufemismo.
Pedro Nava, que era médico, encarava a velhice sem a menor piedade. Ainda agora, vejo em Letras & Artes o depoimento que deu pouco antes de morrer a Regina Maria Telles Vergara. Na casa do Hélio Pellegrino, em Belo Horizonte, eu ouvia a mãe dele, dona Assunta, dizer sempre: "Vecchiaia è bruta". Nós éramos uns garotos e a dona Assunta devia estar pelos quarenta e poucos anos. Um broto. Pois aqui está em português na boca do Nava o rifão da dona Assunta: "A velhice é feia".
Nava tinha então 81 anos e poucos meses depois morreu, como se sabe. Foi um inconformado com a própria velhice. Chegou ao ponto de condenar a aposentadoria por limite de idade. "O sujeito aposentado fica neurótico"; disse. Não estou longe de concordar. Grande escritor, Nava era um espírito radical. Ele próprio advertia que não era o caso de tomá-lo ao pé da letra. No outro extremo, também radical, está a atitude piegas com que hoje se trata o velho.
Os velhos sessentões, ou até cinquentões, estão sendo cumulados de favores legais, na linha de uma mentalidade que compartimenta cada segmento social, para lhe dar tratamento privilegiado. No fundo, não acreditamos no bom e saudável direito impessoal. Ou na simples cortesia que encara o velho com o respeito que merece. Desse jeito vamos acabar votando uma lei que proteja o sujeito que tem um calo no pé. E terá direito a um guichê especial. Quem sabe é melhor acabar com as filas?
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