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Não lhes digo que até manejando um cotonete a condessa era demoniacamente sensual. Mas também não lhes digo que não.
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Morto inadimplente é aquele que deve até o terno com o qual é enterrado.
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O gato morreu há uma semana, mas o sol, como todas as tardes, se demora ainda na poltrona e espera que ele surja de repente de algum canto da sala e se atire sobre ele com aquelas garras brincalhonas.
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Sempre que arranja um tempinho, o assassino chato volta à cena do crime.
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Se ainda houvesse musas e eu merecesse uma, ela haveria de ser nordicamente loira e interminavelmente longilínea.
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O velho poeta vem sonhando com braços e não sabe se, na escala dos pecados, lança isso como uma circunstância atenuante ou agravante.
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Mas que pouca-vergonha é essa? Pensam que isto aqui é um bordel?, exasperou-se dona Dora, atirando o chinelo nos dois passarinhos acasalados no sofá e sentindo mais do que nunca a ausência da finada gata Beijoca.
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Durante muito tempo, o sonho de todo patinho feio era tornar-se um cisne parnasiano.
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Os dois vendedores da livraria ouviram um gemido vindo da estante de poesia. Aproximaram-se e ficaram atentos. “Dá pra acreditar? É este aqui, disse um, puxando um livro. O outro riu: “Antologia de poesia concreta. Como é que pode? Ô cimento chorão.”
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A viúva, no velório, elogiando o terno do defunto: “É o que ele usou no casamento. Quarenta e seis anos. Olha aqui, não parece novo? Dez prestações no Mappin. Lembram do Mappin?”
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Procurando uma explicação para sua já incômoda longevidade, ocorreu-lhe, com vergonha e tristeza, que talvez estivesse economizando em demasia suas forças: a última vez na qual beijara uma mulher quase nos lábios tinha sido no velório de um parente arruinado pela crise dos anos 90.
Raul Drewnick
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