É perigoso andar na mata, propaga a voz dos mais velhos.
Cada bicho traiçoeiro vive lá na terra e ar.
É assim mesmo como dizem? A natureza estabeleceu sua ordem para que os habitantes da mata saibam que lá existem vida e morte.
Há movimentos nos ciclos vitais de cada estação, surpresas com os verdes e sustos nos maduros.
Lá não se mata por prazer, somente para comer, defender-se ou proteger o filhote. Os bichos pulam nos galhos, macaco faz deles seu trapézio dado por Deus. Pendurado no cipó vai de uma árvore distante a outra. Alegres festejam a vida quando encontram nos galhos os frutos maduros e doces.
Tem um sono milenar. A cabeleira verde quase sem fim. Uma magia que não se revela, lavada pela chuva ninguém sabe como aparece.
No chão coberto de folhas a planta nasce entre os escombros da árvore tombada. Viceja e vira outra árvore. Leva anos para virar de muitos andares, morada dos bichos e pássaros. Vem o homem com a serra, num instante põe abaixo o que natureza demorou anos para fazer com engenho e arte.
Será que nunca sabe que sem as árvores a mata recua, os bichos desaparecem, as nuvens passam longe, levando com elas a chuva. A terra fica deserta, sem os sons e as cores não se vê mais festa nos dias.
No seio fresco da mata a flor é tecida com o sonho, o ramo de luz com o verde. Riacho mina na pedra, desce, dá volta como cobra, barco da noite com a lua no cipoal derrama prata.
Quando vai à mata a índia, na trilha caminha esperta, acode nas asas maternais o bicho que caiu na cilada. Solta o passarinho no alçapão, protege perdido o filhote, fica admirando o carinho que as araras fazem uma na outra.
Rio não se esconde da chuva, a terra não dorme amarga.
Abelhas operosas zumbem, de mel fabricam as horas.
Macaco, tamanduá-bandeira, preguiça, capivara, veado.
De dia expelem odores. estrelas carregam à noite.
Cyro de Mattos
Nenhum comentário:
Postar um comentário