Uma noite dessas, meu filho e xará, que é professor de Cosmologia, me chamou, quase num cochicho: "Venha ver uma coisa, papai". E me mostrando o céu limpo de nuvens e iluminado de estrelas, apontou-me o planeta Marte, informando: "Foi há mais de sessenta milênios que o vimos com aquele brilho". Olhei a estrela, ouvi o silêncio e me lembrei daquele espanto de Pascal: "O silêncio eterno desses espaços infinitos me apavora".
Aí me veio uma profunda piedade pelos orgulhosos, os vaidosos, os que não sabem olhar para cima e que só enxergam as miudezas da vida, que se angustiam por qualquer besteira, que não sabem ser humildes. Mas, afinal, como podemos definir humildade? Ninguém definiu melhor esta difícil e sábia virtude do que Emmanuel, o guia de Chico Xavier: "Humildade é o reconhecimento de nossa pequenez diante do Universo". Melhor definição ainda não vi.
A humildade, que não deve ser confundida com servidão ou subserviência, é filha da sabedoria. Olhar a vida com humildade é acordar para uma realidade: quanto mais crescemos, quanto mais nos elevamos, mais nos conscientizamos da nossa diminuta condição diante do Cosmo.
O céu imenso e silencioso diante do nosso olhar, cá em baixo, dava naquele momento uma lição de humildade. Há mais de 2.000 anos que o Cristo veio ao mundo. Mas o que são dois mil anos diante do tempo que transcorreu para Marte voltar a se aproximar do nosso planeta? E agora só em 2.287 o planeta vermelho estará novamente bem juntinho da nossa Terra.
E nós? Onde estaremos? Quantas vidas ainda nos esperam? Só aqueles que vivem olhando para frente ou para o chão é que não percebem a misteriosa grandiosidade sobre suas cabeças.
Humildade... Eis a atitude a tomar diante do espetáculo do mundo. A verdade é que o infinitamente grande e o infinitamente pequeno se confundem e nos assustam. Pascal se espantou com o espetáculo sideral e não se lembrou que dentro dele há também um universo imenso, formado de trilhões de células. É preciso, vez por outra, olhar as estrelas do céu e fazer uma reflexão sobre a nossa vida e a nossa pobre e ridícula vaidade humana.
Carlos Romero
Nenhum comentário:
Postar um comentário